Grau de participação em acções colectivas de protesto é "muito baixo", mas esta realidade não se deve exclusivamente ao medo de retaliações no trabalho.
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Uma sondagem da Universidade Católica Portuguesa, divulgada no início do mês, indica que 59% dos portugueses apoiam a greve geral marcada para a próxima quarta-feira, embora apenas um terço tenha afirmado que vai aderir. A indisponibilidade em fazer greve é menor nos funcionários públicos (26%) do que entre os trabalhadores precários (só 7% admitiram aderir).
Na quinta-feira, o secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, admitiu que a "chantagem" dos patrões e os apertados orçamentos familiares poderão condicionar a adesão de "centenas e centenas de milhar" de trabalhadores à greve geral, a primeira, desde 1988, em que as duas centrais sindicais estão unidas.
Contudo, quem estuda os movimentos sociais e as questões laborais afirma que a causa da diferença de percentagens, entre quem se manifesta a favor e os que efectivamente pretendem aderir à greve, "não deve ser procurada na conjuntura actual". "Os indicadores sobre o grau de participação dos portugueses em acções colectivas de protesto são muito baixos", sublinha Jorge Vala, professor no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e um dos coordenadores do projecto "Atitudes Sociais dos Portugueses".
Para este investigador, o facto de existir um forte sentimento de ausência de eficácia destas formas de protesto na mudança da acção política e, por outro lado, uma perda financeira (o dia de greve é descontado no salário) poderá justificar esta realidade.
António Dornelas, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE, diz que "não há uma causa única" para este declínio da participação nos movimentos colectivos de protesto. "A minha grande curiosidade é saber se esta tendência também se vai verificar nesta greve geral", refere.