Nenhum país deverá ser prejudicado pelo facto de emprestar dinheiro à Grécia, ainda que tenha de se endividar a uma taxa de juro superior à cobrada, como poderá suceder a Portugal, disse ontem o Ministério das Finanças. O lucro de uns anulará o prejuízo de outros.
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"Um dos princípios base [dos acordos de empréstimo à Grécia] é que nenhum Estado membro participante poderá sofrer perdas com o empréstimo", afirmou fonte oficial das Finanças. À partida, os empréstimos serão feitos a uma taxa de juro de 5%, mas o valor que cada um terá que suportar para se financiar varia de país para país. Ontem, Portugal tinha que pagar 4,16% na dívida emitida a três anos, 4,67% nos títulos a cinco anos e cerca de 5,34% nas operações a dez anos - ligeiramente menos do que o cobrado na sexta-feira, antes de ser acordada a ajuda à Grécia.
Ontem, a agência France Press citava fontes da Comissão Europeia para assegurar que o lucro dos países que venham a ganhar dinheiro com o negócio será usado para compensar eventuais perdas noutros países.
Em Portugal, não foi possível obter mais dados junto das Finanças, que remeteram para a discussão no Parlamento, marcada para sexta-feira. Nesse dia, deverá ser apresentado um pedido de autorização legislativa para que Portugal se endivide em mais dois mil milhões de euros, o valor a emprestar à Grécia e dos quais 775 milhões terão que ser entregues ainda este ano. Será esta a parte nacional do pacote de ajudas de 110 mil milhões, a pagar pelos países da Zona Euro e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Também para sexta-feira, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, convocou um encontro extraordinário dos líderes da União Europeia para discutir "as lições que a Zona Euro deve aprender", afirmou.
Apoio chegou muito tarde
Multiplicaram-se ontem as críticas ao tempo que a União Europeia demorou a decidir-se a ajudar os gregos. "Foi uma falha da Europa", disse ontem o presidente do BES, Ricardo Salgado, reafirmando que "Portugal não tem nada a ver com a situação da Grécia". O próprio presidente do Eurogrupo, que reúne os países da Zona Euro, admitiu: "Reconheço que também eu tomei o meu tempo, neste caminho", disse Jean-Claude Juncker.
O dedo tem sido apontado à Alemanha, que hesitou em apostar dinheiro para salvar a gastadora Grécia. Nos últimos dias, Angela Merkel tem repetido garantias de que o apoio dado será suficiente para evitar que outros países, como Portugal, fiquem no centro de um terramoto financeiro. A chanceler veio também a público apelar à criação de uma agência europeia de notação financeira, independente das três (norte-americanas) que dominam o mercado, devendo contar com o apoio de, pelo menos, a França. O tumulto da semana passada, recorde-se, foi provocado pela forte descida da nota dada à dívida da Grécia e, também, de Portugal e Espanha, pela Standard and Poor's.
* Com agências