Anselmo Mendes, enólogo, produtor de vinho e presidente da Associação de Produtores de Alvarinho (APA), terminou ontem a vindima em Moreira, Monção, com mais 10% (e melhor) de uva do que em 2019.
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Tudo indica que o cenário seja idêntico para a maioria dos produtores da sub-região de Monção e Melgaço, que por estes dias vive a azáfama das colheitas.
O presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), Manuel Pinheiro, que ontem visitou algumas propriedades, estima que a produção supere a de 2019 "em cerca de 15%". "Esta sub-região é a que mais cresce este ano em termos de produção.", disse, referindo que a Região Demarcada dos Vinhos Verdes, "vai ficar um pouco acima do ano passado mas não tanto como Monção e Melgaço". Com as vindimas a decorrer até outubro, avança um possível acréscimo geral de "cerca de 9%".
Tintos de volta
Nesta colheita despontaram uvas tintas de castas ancestrais como o alvarinhão, que "deram fama" à região nos seus primórdios. Joana Santiago, da Quinta de Santiago e também membro da Direção da APA, deverá este sábado vindimar as suas primeiras uvas para "dois a três mil litros de tinto", e pretende reenxertar vinha típica e ampliar a produção em 2021. Manuel Pinheiro sublinha: "Acho que há uma retoma da história. Certo que os alvarinhos daqui são únicos, mas esta sub-região pode redescobrir a tradição dos tintos".
Entre 31 de agosto e ontem, Anselmo Mendes vindimou "perto de 300 mil quilos" de uva branca, principalmente alvarinho. Nos seus 32 hectares de vinha, trabalharam cerca de 100 pessoas, de reformados a estudantes. António Gonçalves, que comanda a vindima naquelas propriedades há 18 anos, recrutou o pessoal nas aldeias de Monção e na zona de Braga, para trabalhar a "35 euros por dia com almoço". "É um trabalho duro, mas alguma juventude agarra isto nas férias. Este ano até começámos mais cedo. O resto são reformados", contou.
Quanto à vindima, avalia-a como "uma das melhores" que fez até hoje. "Este ano parece que é o melhor em tudo. Nas uvas e na quantidade. A uva está lourinha, limpinha, sem podridão. Os cachos estão cheios e perfeitos", descreve.
Anselmo diz que a pandemia talvez tenha ajudado à boa colheita. "A vinha foi onde nós [produtores] nos refugiamos no confinamento. Passamos mais tempo nas vinhas", comentou.