O sector dos transportes foi o que mais aderiu à greve de 1988. Empresas como o Metro de Lisboa e a Carris tiveram uma adesão de quase 100% na altura, e hoje o cenário deverá repetir-se. Amável Alves, trabalhador do Metro e coordenador da federação dos sindicatos dos trabalhadores dos transportes (Fectrans), contou ao JN como foi a primeira greve geral convocada em conjunto pelas centrais sindicais CGTP e UGT e o que mudou no sector desde então. <br />
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À semelhança do que se passou há 22 anos, Amável Alves espera que esta seja uma "greve de grande envergadura que vai paralisar o país". "Em 88, recordo-me que o primeiro-ministro foi para o Porto e no local onde estava hospedado não paravam de passar autocarros. Mandaram-os todos para lá, mas o resto da cidade estava parada". Sem adiantar números, este sindicalista avançou que o sector dos transportes terá uma "grande adesão", estando algumas empresas, como o Metro de Lisboa "muito próximo dos 100%", outra vez.
Amável Alves nunca faltou a uma greve geral - a primeira em que participou foi em 1967, altura em que recusar receber o ordenado era a única forma de luta possível - e tem bem presente o espírito que se viveu na altura: "O estado emocional era diferente, mais reivindicativo, ainda estávamos perto do 25 de Abril". Hoje, o cenário pinta-se de forma um pouco de diferente, mas o ideal continua a ser o mesmo. "O dia da greve é um dia de esperança, em que os portugueses gostam de participar e sabem que estão a contribuir para alterar uma situação", afirmou o sindicalista afecto à CGTP. "Hoje em dia há um convívio entre as pessoas, não sentimos hostilidades", acrescentou. A forma de preparar o dia da greve é semelhante, mas mais facilitado: hoje há Internet e telemóveis.
Passados mais de 20 anos, Amável Alves faz um retrato pouco colorido das mudanças "profundas" verificadas não só no Metro, empresa onde trabalha, como nos transportes em geral - sector com maior adesão à greve em 1988: "Hoje caminhamos para um retrocesso social". A nível de infra-estruturas e equipamento técnico, "os transportes estão hoje muito mais desenvolvidos. Já do ponto de vista social, "há mais precariedade laboral, o desemprego subiu, há menos oferta geográfica e as condições de trabalho deterioraram-se, até os jovens tinham mais estabilidade em 88", afirmou.