Os portugueses "são um povo estoico e irão superar a atual crise", defende o professor de economia Michael Burda, da Universidade Humboldt, em Berlim, defendendo, simultaneamente, mais inspiração governativa e um maior consenso social.
Corpo do artigo
Michael Burda, um economista norte-americano radicado há vários anos na Alemanha, que conhece bem Portugal, considerou que a Irlanda, outro país que acompanha de perto, já passou o pior, e está em franca recuperação, a Grécia tem poucas hipóteses de se salvar, e Portugal está no meio-termo.
"Espero que Portugal passe o vale de lágrimas que os irlandeses já passaram, e seja poupado ao destino da Grécia", referiu à agência Lusa.
No entanto, deixou, nas declarações à Lusa, uma nota de otimismo, sublinhando que "os portugueses são um povo estoico, o que talvez tenha a ver com o fado, com a melancolia, com uma postura de quem aceita o seu destino, e isso pode contribuir, por paradoxal que pareça, para recuperar a sua economia".
O economista constatou ainda, um ano após as legislativas antecipadas em Portugal, "alguma falta de inspiração" nas medidas adotadas pelo executivo PSD/CDS, dando como exemplo os cortes nos subsídios de natal e de férias e nas pensões dos funcionários públicos e das pensões de reforma.
"Dever-se-ia ter procurado um consenso social mais alargado, e seria melhor ter havido uma ação concertada com os sindicatos, para delimitar bem essas medidas no tempo, ou dar-lhes outro cariz, por exemplo, o de empréstimos temporários dos trabalhadores ao Estado, com garantia de receberem o dinheiro de volta logo que a situação melhore", afirmou.
A política de austeridade que decorre do memorando assinado com a "troika" do FMI e da União Europeia também merece alguns reparos ao professor de economia norte-americano, que recentemente apresentou em Portugal a tradução do seu livro "Macroeconomia: Uma Visão Europeia", escrito em parceria com Charles Wyplosz.
"Cortar em períodos de recessão torna as coisas ainda piores, já dizia Keynes e diz agora Krugmann", advertiu o professor Burda, citando dois reconhecidos economistas do seu país de origem. "A atual política de austeridade devia era ter sido levada a cabo nos bons tempos, como recomendam os manuais de economia", lembrou.
Porém, ao contrário do que sucede na Grécia, em Portugal "há razões para algum otimismo, porque o Governo tem atitude positiva face à economia, há um considerável consenso social, uma cobrança de impostos eficaz e um esforço de inovação empresarial, e áreas potenciais como o turismo", reconheceu.
Outros fatores que influenciarão negativa ou positivamente a conjuntura portuguesa serão, na opinião de Michael Burda, a forma como evoluir a crise em Espanha, devido à grande interligação entre as economias dos países vizinhos, e o mercado interno na Alemanha, sobretudo o comportamento dos consumidores, "também muito importante" devido ao potencial económico deste país.