Oleoturismo pouco desenvolvido, ao contrário do que acontece em vários países europeus.
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Ao contrário do enoturismo, já muito em voga, a atração de turistas através de experiências com azeite ainda dá os primeiros passos em Portugal. O oleoturismo começa, no entanto, a ser visto como forma de acrescentar valor aos olivais e lagares, e alguns produtores já começaram a desenvolver programas com esse objetivo. A cosmética à base de azeite também tem seguidores.
Na Europa, Espanha e Itália são os países que levam a dianteira na implementação do oleoturismo. O objetivo é envolver os visitantes em experiências que começam no olival, durante a vareja e colheita da azeitona, passam por provas de azeites, e acabam à mesa durante um repasto que promove a harmonização com gastronomia e vinhos.
Um programa semelhante foi testado este ano na Quinta da Pacheca, em Lamego, a propósito do lançamento de vários azeites monovarietais. A diretora-geral-adjunta, Sandra Dias, explicou ao JN que o oleoturismo está a ser testado como "um complemento" a toda a atividade turística já desenvolvida na vinha e no vinho. "O azeite é um produto também muito acarinhado na nossa empresa", explica. O programa deste ano já está encerrado, mas abre novamente em 2022. Isto porque tem-se notado que "há cada vez mais pessoas curiosas em relação ao azeite" e aos seus benefícios para a saúde.
Verificar como é difícil
Hugo Fonseca, diretor de produção, explica que a experiência começa no campo, onde os turistas podem participar na vareja da azeitona. Desta forma podem logo verificar "o quão difícil é o trabalho de ter um belo azeite à mesa". O dia em que o JN esteve presente, com sol e calor, terá sido, porventura, um luxo quando comparado com o frio normal em tempos de colheita de azeitona. Fonseca acredita que a participação neste tipo de iniciativas pode contribuir para que as pessoas olhem o azeite "com mais respeito", que "valorizem o trabalho que ele dá" e "o quão importante ele é à mesa".
Francisco Pavão também tem promovido algumas iniciativas de oleoturismo na Trás-os-Montes Prime, onde produz azeite, mas admite que, em Portugal, "ainda está muito pouco explorado". Todavia, o cenário parece estar a mudar, com "cada vez mais pessoas interessadas em acompanhar a fase da colheita da azeitona e da produção de azeite".
"Há dois setores muito mais atrasados do que o oleoturismo e que já se veem muito noutros países: a cosmética ligada ao azeite e o artesanato. Temos de apostar mais neles como fatores de dinamização local e de promoção", Francisco Pavão
O também presidente da Associação de Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro acredita que o oleoturismo, à semelhança do que ocorreu com o enoturismo, "deverá crescer rapidamente". Até porque "já há muitos produtores com condições para receber pessoas". Embora ainda seja "residual", poderá revelar-se "um setor estratégico para toda a fileira do azeite", considera Pavão.
Referência
Portugal lidera em azeite de qualidade
Apesar de o oleoturismo e a cosmética ainda terem muita margem para se desenvolver em Portugal, a produção de azeite de elevada qualidade está na dianteira mundial. O país produz 95% de azeite virgem e virgem extra, ficando à frente dos EUA, Espanha e Itália. Em termos absolutos, é, atualmente, o oitavo maior produtor do Mundo. A campanha 2021/2022 deverá render 150 mil toneladas, o que é apontado como um recorde. Floração sem problemas, pluviosidade em quantidade certa e a quase ausência de pragas são apontados como os fatores que pesam na previsão. O Alentejo tem o maior peso nesta previsão, já que é responsável por 85%. Em Trás-os-Montes e Alto Douro, o ano olivícola deverá ser normal, até 15 mil toneladas, mas de boa qualidade.