Em 2021, a receita com serviços e manutenções de contas foi de 2,3 mil milhões. Este ano voltam a aumentar e até o Banco CTT deixa de ser grátis.
Corpo do artigo
Mais negócio, mais virtual, mais comissões e menos trabalhadores. Esta equação resultou em mais lucros para os bancos portugueses em 2021, muito à custa das comissões bancárias. Entre os cinco maiores bancos do país, todos já aumentaram ou vão aumentar as comissões este ano. Até o Banco CTT vai abandonar a política de custo zero e passar a cobrar comissões pela manutenção de conta. O leque dos que garantem isenção reduz-se para apenas quatro.
Este ano, os tarifários já aumentaram no BCP, Santander Totta e BPI. O Novo Banco aumenta amanhã e a Caixa Geral de Depósitos (CGD) atualiza a 1 de abril. No caso do Novo Banco, a principal alteração que entra em vigor amanhã é o fim do desconto na comissão de manutenção da conta à ordem. Até agora, quem tinha mais de 35 mil euros na conta pagava 12 euros de comissão líquida por ano e passa a pagar 62 euros e 30 cêntimos. A este valor acresce o imposto de selo de 4%.
O banco liderado por António Ramalho até cumpriu a promessa feita de voltar aos lucros em 2021 e atingiu o resultado positivo de 184,5 milhões de euros, contra o rombo de 1329 milhões de euros de prejuízo registado no primeiro ano de pandemia. Ainda assim, teve de pedir 210 milhões de euros ao fundo de resolução e decidiu atualizar as tarifas.
No caso da CGD, a alteração de tarifário prevista para 1 de abril visa sobretudo as contas para idosos. Até agora, só quem tinha mais de 20 mil euros na conta é que pagava comissão, mas agora o valor baixou para 5 mil euros. O banco público também teve um ano de 2021 positivo. Os lucros subiram de 492 milhões de euros para 583 milhões, e as comissões seguiram a mesma tendência, passando de 502 milhões para 565 milhões.
Uma das principais surpresas deste ano ao nível das comissões é o facto de o Banco CTT passar a cobrá-las. A instituição ganhou mais de meio milhão de clientes em cinco anos graças à política de "zero custos", mas a partir de 31 de março vai passar a cobrar 20 euros e 80 cêntimos por ano a cada conta à ordem. É, ainda assim, o mais barato entre os que têm política de cobrança de comissões destas contas (ver infografia).
só Quatro com isenção
A mudança de política do Banco CTT deixa o sistema bancário português com apenas quatro bancos que asseguram isenção de comissões de manutenção de conta à ordem: Best Bank, ActivoBank, Banco BiG e BNI Europa. O ActivoBank é o único que oferece, para além da conta, o cartão de débito sem custos. Isto entre os bancos que têm dependências físicas em território nacional, pois o universo dos bancos virtuais alargaria o leque, por via de opções como o "Moey!", o serviço de banco digital do grupo Crédito Agrícola.
Há ainda o caso dos que baixam a comissão a pagar à medida que o saldo da conta aumenta, como o EuroBic, que tem uma comissão de manutenção "base" de 48 euros associada à conta à ordem, mas este valor passa a ser zero se o cliente tiver mais de 15 mil euros depositados.
"mais transparência"
O aumento das comissões já tinha sido criticado por Nuno Rico, da Deco Proteste, antes do final do ano. Ao Dinheiro Vivo, o economista disse não entender os argumentos para os aumentos pois "cada vez mais os portugueses têm menos banca, mas uma banca mais cara". Nuno Rico tem vindo a pedir aos gerentes dos bancos nacionais "mais transparência" na aplicação destas comissões.
Refira-se que os gerentes dos maiores bancos portugueses têm justificado o aumento da cobrança de comissões com a necessidade de suportar os custos operacionais e, concretamente, o pagamento de salários. No entanto, a banca portuguesa perdeu 2600 trabalhadores só nos cinco maiores bancos, como revelam os respetivos relatórios e contas
Paulo Macedo diz que comissões servem para pagar salários
"Quando as comissões acabarem, os trabalhadores deixam de ser pagos". A frase de Paulo Macedo, CEO da Caixa Geral de Depósitos, surge como resposta àqueles que criticam o valor de comissões pagas aos bancos portugueses. O ex-ministro da Saúde aproveitou a conferência de imprensa de apresentação do Relatório e Contas do banco público, anteontem, para justificar que os juros negativos "remuneram o custo do capital" e as comissões "remuneram aquilo que são os custos operacionais, designadamente as pessoas e a estrutura". Ou seja, para Paulo Macedo, qualquer redução de comissões passa por reduzir os custos operacionais, leia-se despedir. "Não há outra forma", garante.
CGD quer contratar
O CEO da CGD, Paulo Macedo, anunciou que o banco público quer contratar "400 a 600" trabalhadores nos próximos três anos, como forma de compensar a previsível saída anual de 300 trabalhadores devido às pré-reformas e rescisões por acordo.
Serviços mínimos
A conta de serviços mínimos bancários é uma conta à ordem com o essencial (cartão de débito, homebanking, depósitos, levantamentos e transferências) com um custo reduzido ou gratuito. É acessível a qualquer pessoa que não seja titular de qualquer outra conta à ordem. A CGD detém cerca de 40% deste mercado.