Setor justifica reduções com a crescente digitalização. Emprego na rede de retalho portuguesa caiu 23%.
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Os bancos que operam em Portugal fecharam 2776 agências nos últimos dez anos, o que representa uma redução de 44% que ocorreu sobretudo nas grandes cidades. Os bancos justificam as reduções com a crescente digitalização, mas os sindicatos ripostam que se trata de avidez pelo lucro.
A rede de retalho da Banca portuguesa contava com 6306 balcões em dezembro de 2011. Dez anos depois, só havia 3530 postos de atendimento, o número mais baixo desde 1993, segundo a Associação Portuguesa de Bancos. Só desde a pandemia fecharam cerca de 500 agências e os números vão piorar pois os encerramentos continuam em 2022 e na Caixa Geral de Depósitos (CGD), por exemplo, já se suprimiram 23 balcões.
Sempre que são chamados a justificar os encerramentos, os bancos justificam-se com a transformação do modelo de negócio. A banca está mais digital, o homebanking por via de aplicações de telemóvel é cada vez mais comum e as interações pessoais nas agências estão a diminuir. O presidente do Mais Sindicato, António Fonseca, contrapõe que os bancos estão ir mais longe do que deviam: "Nós entendemos que têm de fazer acertos, mas o que tem acontecido no pós-pandemia é que tem havido um número infindável a fechar".
Para agravar o cenário, há agências que encerram alguns dias da semana, outras que abrem só duas horas por dia ou fecham à hora de almoço. "É tudo verdade, esse é o paradigma atual", diz o sindicalista.
Menos 13 mil trabalhadores
Com o fecho de balcões, o número de empregos do setor também diminuiu. Entre 2011 e 2021, passou de 57 069 funcionários para 43 726, o que dá menos 13 343 trabalhadores (23%). "Cada vez mais temos queixas de colegas que sofrem com o excesso de trabalho, cada vez são mais os objetivos e a verdade é que a automatização não tem sido tão grande para justificar os fechos", nota António Fonseca. Então o que justifica? "Basta analisar os lucros", responde. Em 2021, os cinco maiores bancos lucraram mais de 1500 milhões de euros e todos fecharam agências.
O Santander Totta foi o que mais fechou (540), seguido do Millenium BCP (439), Novo Banco (381), BPI (347) e CGD (305). Refira-se, contudo, que a CGD e o Novo Banco foram obrigados por Bruxelas a fechar agências. Quanto ao Santander Totta, uma parte dos balcões encerrados resultaram da fusão com o Banco Popular.
O concelho de Lisboa, com menos 335 agências (menos 50%), foi o que registou maior decréscimo. Contudo, o impacto é maior em concelhos como Ponta do Sol que perdeu 80% dos postos de atendimento.
na europa ainda há menos
A digitalização da Banca não é uma novidade e a redução do número de agências é um fenómeno por que vários países já passaram. Os dados do Banco Central Europeu demonstram que, entre os 19 países da Zona Euro, Portugal é o quinto com menos habitantes por balcão. Ou seja, Portugal tem mais postos de atendimento por 100 mil habitantes do que a média da Zona Euro. Só Itália, Áustria, Espanha e França têm mais. Os Países Baixos são o Estado da zona euro com menos agências por habitante.