Solução à mão só de alguns não é considerada viável pelo setor. Empresários de bares e discotecas querem igualdade e pedem uma data para a retoma da atividade.
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Ainda sem data para poderem voltar a funcionar, alguns bares e estabelecimentos de diversão noturna estão a recorrer a outras classificações das atividades económicas (CAE) para reabrirem como cafés ou restaurantes. O setor exige à tutela "equidade" e a definição da data de retoma.
O Conselho de Ministros da passada terça-feira determinou que "as atividades e espaços que permanecem encerrados possam abrir quando disponham de orientação específica da Direção-Geral da Saúde (DGS)", mas a ministra da Presidência já veio dizer que as discotecas e espaços de dança vão continuar fechados por tempo indeterminado.
A sensação de que os bares sem pista de dança poderão ser os primeiros do setor a reabrir é comum no meio, mas permanece a indefinição quanto à data e às regras a impor pela DGS. Entretanto, para fazer face às despesas e dificuldades, há casas a socorrerem-se de outros códigos CAE para abrir de acordo com as normas estabelecidas para cafés e restaurantes, a funcionar desde 18 de maio.
Com diferentes CAE, a casa de referência na noite portuense "Maus Hábitos" aproveitou a oportunidade para abrir a 1 de junho, expandindo o restaurante à sala club, onde agora há jantares com animação cultural três vezes por semana. Também funciona como café. Às 23 horas fecha tudo.
"Temos 28 funcionários. Tínhamos que ativar rapidamente os da cozinha e sala", diz o gerente Daniel Pires, considerando a aposta como boa face às restrições. A lotação do restaurante caiu "de 250 lugares (máximo) para 42", para se respeitar o distanciamento físico.
No Cais do Sodré, em Lisboa, Ana Paula Afonso está a tratar do pedido de CAE de restauração para o "Roterdão Club" poder abrir com mesas e a servir snacks, mas só tem data na conservatória a 29 de junho. "Esta situação é muito injusta. As festas estão a acontecer - há restaurantes a anunciar bailes", desabafa a gerente, que gostava de abrir já a esplanada para ajudar na renda.
"Situações de desespero"
A multiplicidade de critérios está a criar mal-estar no setor. "Não pode haver situações privilegiadas", queixa-se Mário Carvalho do "Café Lusitano", no Porto. Para o empresário não é exequível este bar com área de dança abrir como café, dadas as elevadas despesas.
"As rendas são altíssimas. Com uma limitação de horário até às 23 horas é impossível faturar", aponta, pedindo apoios efetivos para as atividades sem data de retoma. Também Pedro Vieira, presidente da Associação Cais do Sodré, considera este cenário "inviável" para os empresários da noite, mas admite "situações de desespero", em que essas "ferramentas são aproveitadas por quem as tem".
Os bares e discotecas querem "ser tratados como os restaurantes", diz Pedro Vieira, que pede as mesmas medidas da DGS e outras para mitigação de riscos, dentro de "um consenso que não inviabilize o negócio, senão "terá que haver uma compensação".
Ajuntamentos
Associação do Porto diz que "a batota está instalada" e pede diálogo à DGS
As associações de bares e discotecas queixam-se da falta de diálogo da DGS e do Governo, quanto às condições para a reabertura do setor. "A socialização está a acontecer nas ruas. A batota está instalada. Há bares a abrir com CAE de restaurante ou café, mas com o mesmo serviço e a aglomerar gente à porta", aponta o presidente da Associação dos Bares da Zona Histórica do Porto. António Fonseca, também autarca, quer a data da retoma definida para o planeamento dos estabelecimentos, mas defende que o setor abra todo ao mesmo tempo para que se evitem enchentes nos espaços e considerando que o distanciamento social depende sempre da consciência dos clientes.
À lupa
Reabrir sem pista
A Associação Portuguesa de Bares, Discotecas e Animadores (em formalização), que representa cerca de 300 empresários de todo o país, propõe que os estabelecimentos abram para já sem pista de dança, com controlo de temperatura à entrada, mesas e reservas. "Se não podemos trabalhar a 100%, podemos a 50%", diz o líder, Hugo Cardoso.
Apoios pedidos
As associações de estabelecimentos de bebidas e diversão noturna querem que o Governo apoie as casas que não possam vir a abrir ou o venham a fazer com limitações. A redução do IVA, a isenção da TSU e a concessão de apoios a fundo perdido para pagamento de salários são algumas das medidas transversais pedidas.
Abertura imediata
O Movimento para a Abertura dos Bares (MAB) enviou na sexta-feira ao primeiro-ministro uma carta a pedir a urgente reabertura dos bares tradicionais, subscrita por várias figuras públicas. O MAB considera que o setor "está a ser prejudicado e discriminado em relação a bares em casinos, hotéis e restaurantes", já a operar.
Guia de boas práticas
A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal está a elaborar uma proposta de Guia de Boas Práticas para contribuir para a reabertura do setor que "atravessa uma singular e dramática situação".