A Associação Nacional de Restaurantes Pro.Var estima que "cerca de 50 mil dos 90 mil restaurantes e similares que existem no país estão em situação de falência". O responsável, Daniel Serra, tem por base um inquérito feito a 621 estabelecimentos, em janeiro, em que "quase 60%" disseram estar "no fim da linha".
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São números mais dramáticos do que aqueles que são apresentados pela Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP). Num inquérito a 1042 espaços, 36% disseram que "ponderavam apresentar insolvência".
Os dados recolhidos por ambas as associações mostram que as restrições do Governo levaram a perdas de faturação "acima dos 60%". Só metade dos restaurantes aderiu ao takeaway ou entregas em casa e o "balão de oxigénio ganho no verão não é suficiente para aguentar a nova vaga", afirma Daniel Serra, apontando para "150 mil postos de trabalho" que podem estar em risco, caso 50 mil estabelecimentos fechem portas de vez.
18% não pagaram salários
Segundo os dados da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, "18% das empresas não conseguiu efetuar o pagamento dos salários em janeiro". Desde o início da pandemia, "44% das empresas já efetuou despedimento" e "19% assume que não vai conseguir manter todos os postos de trabalho até ao final deste mês".
O inquérito da Pro.Var revelou, por sua vez, que "uma em cada três empresas diz não ter capacidade para pagar salários e 88,5% diz não estar a conseguir pagar todas as despesas".
A partir de julho, a associação propõe que o IVA na restauração baixe para 6%, à exceção das bebidas. A Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal sempre insistiu na importância do "reforço dos apoios a fundo perdido". "Face aos resultados apresentados, é evidente a insuficiência dos apoios até aqui disponibilizados", conclui.
Coimbra
Vamos ultrapassar como fizemos com a guerra e a ditadura
Café Santa Cruz celebra 98 anos em maio e proprietário assegura que está para durar.
Em 2020, o Café Santa Cruz, em Coimbra, fechou dois meses pela primeira vez em quase 98 anos de história. Faz mais de um mês que voltou a encerrar, devido ao confinamento. Apesar das dificuldades dada à ausência de receitas, o dono, Vítor Marques, assegura a continuidade do café, mas admite que receia o futuro para comerciantes e clientes. "Estamos prontos para abrir amanhã. Temos recursos humanos e mercadoria", assegura Vítor Marques. Apesar de não saber quando é que os cafés voltam a abrir, os medos do proprietário são outros. "Não sabemos em que moldes poderemos reabrir e, com a crise financeira e social que virá, se os clientes não se vão resguardar", revela, lembrando o medo que teve em maio de 2020, quando o café reabriu ao fim de dois meses. "Os primeiros dias foram de muito receio, porque nunca sabíamos se estávamos a tomar as medidas certas".
Vítor lembra que a hotelaria e a restauração já estão em crise há ano e meio, já que o início da pandemia e o primeiro confinamento foram decretados no início da época alta. "Estávamos a acabar a época baixa e, no início de março, quando começa a época alta, tivemos de fechar", afirma.
Apesar dos tempos difíceis, Vítor Marques garante que o Santa Cruz vai voltar aos tempos favoráveis. "Nestes 98 anos houve uma guerra mundial, um regime ditatorial, a guerra colonial, várias transformações na Baixa da cidade e o Santa Cruz ultrapassou tudo. Também vai ultrapassar isto", conclui.
Braga
Temos apoios aprovados mas o dinheiro chega a conta-gotas
Café Vianna perdeu 90% da faturação. Verão compensou prejuízos do primeiro confinamento.
Mário Pereira, 39 anos, recorda com saudade o verão de 2020 em que, mesmo com pandemia, conseguiu encher as esplanadas e o café e restaurante Vianna, um emblema da cidade de Braga. O gerente fala numa "lufada de ar fresco" para reparar os prejuízos do primeiro confinamento, mas insuficiente para aguentar um novo fecho de portas. "É um lugar icónico da cidade, que atraía muitos turistas antes da pandemia. O que fizemos foi passar a chamar o público de Braga. Trabalhámos bastante bem no verão e ajudou-nos a Câmara ter permitido alargar as esplanadas", admite Mário Pereira, agora a viver um período de dificuldades, sobretudo porque os apoios do Governo tardam em chegar.
"Estamos a fazer takeaway e delivery, mas são migalhas para uma casa com a nossa estrutura", afirma o responsável, falando de quebras de faturação acima dos 90%. "Temos os apoios [aos programas do Governo] todos aprovados, mas o dinheiro chega a conta-gotas e é insuficiente", lamenta, sublinhando que, nesta fase, "o mais importante é aguentar os funcionários". São 15 pessoas, todas em lay-off ou lay-off parcial.
"Sempre respeitamos as regras, a restauração portou-se muito bem desde que desconfinámos, em maio do ano passado. Não merecemos ser tratados desta forma agora. A injeção de capital é importante para ajudar a pagar as contas", defende, à entrada do restaurante, com as portas decoradas com panos pretos em sinal de luto, "pelas vítimas da covid-19 e pelo setor".
Saiba mais
Desconfinar
O Governo pode já neste mês aligeirar as medidas, mas o desconfinamento só acontecerá depois da Páscoa. De hoje a oito, António Costa dará conta das medidas para que isso aconteça.
Reabrir
Os restaurantes, que neste momento só podem funcionar em regime takeaway e para entregas ao domicílio, deverão manter-se fechados ao público até fim de abril.