Consumidores estão "menos leais" às marcas e denúncias sobre a incorreta aplicação do IVA zero são "pontuais". Seca pode aumentar o custo de hortícolas e da carne de vaca.
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Os consumidores estão a ir mais vezes às compras e são "menos leais" a uma única insígnia. O objetivo é "encontrar o produto desejado ao melhor preço", o que leva os clientes a visitar "diferentes espaços comerciais" e a privilegiar as idas semanais às compras ao invés das mensais. O retrato é feito pela Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), a um dia de se completar um mês da implementação do IVA zero. A Deco Proteste revela que as denúncias sobre a isenção do imposto nos 46 alimentos são "pontuais".
Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED, explica que a associação consegue, através da consultora Nielsen, ter "dados agregados" dos perfis de consumo e constatar que as "compras estão mais racionais". A aposta é feita sobretudo nos produtos de marca branca, "economicamente mais interessantes para o consumidor", explica. Nos últimos meses, e ainda antes do IVA zero, verificou-se que os clientes "vão mais vezes às compras" e trazem um cabaz mais pequeno.
"Desde a implementação da medida do IVA zero, não se registou nenhuma alteração substancial naquele que tem sido o comportamento de consumo das famílias portuguesas, pelo que não existe nenhuma categoria de produto que se destaque em relação às restantes que integram o cabaz definido", aponta o diretor-geral da APED. Gonçalo Lobo Xavier alerta que o período de seca poderá, nos próximos meses, subir o preço de alguns produtos como os hortícolas e a carne de vaca.
Num mês, houve uma descida residual do preço do cabaz (0,36%). As subidas mais notórias foram nos brócolos e no feijão-frade. Pelo contrário, as descidas mais impactantes foram na sardinha e óleo (ver info).
Rita Rodrigues, diretora de comunicação e relações institucionais da Deco Proteste, clarifica que "chegaram algumas dezenas de denúncias que alegam problemas com a implementação da medida". Entre os casos denunciados, estão a cobrança do IVA em produtos que deviam estar isentos, sobretudo no pequeno comércio, ausência de indicação do preço nas prateleiras e incorreção nas faturas.
Atenção ao "IVA Washing"
Apesar da necessidade de se resolverem as anomalias, a especialista da Deco Proteste esclarece que as queixas não são em número elevado. Segundo a diretora de comunicação, os argumentos usados pelo comércio tradicional para não aplicar o IVA zero são a impreparação e porque os produtos foram comprados aos fornecedores com o imposto.
Rita Rodrigues chama, ainda, a atenção para o fenómeno do "IVA washing", isto é, as "insígnias promovem e publicitam a descida do preço do produto, quando é uma obrigação legal implementar o IVA zero". "Se, depois de descontado o imposto, quiserem fazer uma promoção, isso tem de estar muito claro para os consumidores", adverte.
Questionada pelo JN, a ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) diz que fará um balanço do IVA zero no final da semana ou no início da próxima e não se mostrou disponível, por estarem a "decorrer ações de acompanhamento", para adiantar quantas contraordenações foram abertas sobre a incorreta aplicação da medida. No início de maio, a ASAE anunciou terem sido instaurados 16 processos.