Em Braga há uma loja que vende terços há 70 anos, mas não faz milagres que evitem o abalo que um segundo confinamento provocará no comércio e na restauração. Para uns pode ser remédio, para outros um veneno fatal.
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Do Mar Shopping, em Matosinhos, ao Cais do Pescado, em Aveiro, ou à Casa dos Terços, em Braga, há ideias cruzadas quanto ao confinamento que aí vem. Preocupação por um lado, conformismo por outro. A única certeza é que este "banho-maria" em que se encontram os negócios, seja no comércio, seja na restauração, não está a fazer bem a ninguém.
Matosinhos
Centro comercial pronto para tudo
"Só com a pandemia controlada poderemos continuar a viver com relativa normalidade", defende Sandra Monteiro, diretora-geral do Mar Shopping Matosinhos, convicta de que "embora um novo encerramento tenha obviamente um impacto económico muito significativo", no centro comercial refere que estão "totalmente disponíveis para aceitar e implementar todas as medidas que o Governo e Autoridade de Saúde julguem necessárias".
Susana Pinto, 33 anos, dona da Totikids Store, no Mar Shooping Matosinhos, é da opinião que "será melhor haver um novo confinamento do que os centros comerciais se manterem a trabalhar até às 13 horas". Situação que é "contraproducente", porque o shopping "tem constantemente de encerrar por atingir a lotação máxima".
Situação mais delicada vive a sapataria Ecco, que depende a 100% do negócio em loja. Sem site para vendas online, Carla Fernandes, 43 anos, responsável de loja, não tem dúvidas que um novo confinamento será "muito mau". "É reviver o passado, sem saber quanto tempo vai demorar a reabertura", lamentou.
Braga
Antes agora que na Páscoa
José Fernandes está há 30 anos a gerir a Casa dos Terços, em Braga, um negócio com quase 70 anos, passado pelos pais. Não se lembra de "um ano tão difícil" como 2020, em que perdeu "60 a 70%" da faturação, e assume que "ninguém estava a contar fechar novamente", logo a arrancar o ano novo.
"É preferível dominar o vírus, do que depois ser o caos total. Mas ninguém queria fechar, apesar do pouco negócio que se faz", confidencia ao JN, ressalvando, contudo, que "é preferível" ir para casa agora, "na época baixa", do que "perder" o negócio na Páscoa.
Vendedor de artigos religiosos e lembranças para turistas, espera que os eventos voltem para compensar as perdas. "Entre 30 a 40% dos clientes eram turistas e desapareceram", lamenta, ao mesmo tempo que critica as restrições aos fins de semana, que promoveram "ajuntamentos" durante as manhãs. Para aguentar o negócio, José diz que lhe vale o facto de ter uma renda baixa e apenas uma funcionária.
Aveiro
Arrependimento por não ter fechado
O Cais do Pescado, no bairro da Beira Mar, em Aveiro, serviu sete almoços na segunda-feira. Muito abaixo das "cerca de 40" refeições antes da pandemia. Os números são do proprietário, Sérgio Cunha, que já se arrependeu de ter mantido as portas abertas.
"Fizemos um esforço para manter a economia a funcionar, mas arrependi-me de estar a trabalhar porque todos os dias perdemos dinheiro e também direito a alguns apoios", explica.
O restaurante, que serve peixe fresco e marisco, trabalha sobretudo aos fins de semana e o serviço de takeaway é residual.
"Estamos a chegar a um ponto insustentável", diz, explicando que a manutenção das atuais restrições ou a imposição de novas poderão ser a gota de água. "Será melhor fechar e recorrer ao lay-off", desabafa.
Nos outros dois estabelecimentos do grupo, O Bairro e Laguna, o cenário é semelhante. No grupo, "a faturação prevista para 2020 era de três milhões de euros, mas fechamos o ano com cerca de 1,3 milhões" e o número de funcionários "passou de 40 para 20", revela. A abertura de um quarto estabelecimento foi adiada.