Desmaterialização da informação e de impostos acrescentaram trabalho à classe que na pandemia teve de responder a mais necessidades das empresa.
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Às dezenas de declarações que os contabilistas produzem todos os meses, a pandemia trouxe mais para preencher e entregar, em condições de trabalho que, como noutros setores, levaram o escritório para casa e penalizaram as famílias. José Araújo, candidato a bastonário da Ordem dos Contabilistas Certificados, assegura que "o burnout da classe profissional é um problema de saúde pública", que só melhora com "respeito do Estado e canais de comunicação dedicados para os contabilistas". Paula Franco, atual bastonária e recandidata às eleições de quinta-feira, não quis falar ao JN sobre o problema.
Maria de Lurdes Pereira é contabilista há quatro décadas e, no início da pandemia, tinha escritório na Avenida da República, em Gaia. O confinamento transformou-lhe a casa em escritório, a caixa de correio em local de quarentena de documentos deixados pelos clientes e a cama num purgatório. "Não consigo dormir, sempre a pensar no trabalho", relata. A crise levou-lhe "10% dos clientes, falidos", mas o trabalho aumentou, com "os pedidos de apoios do Estado, que exigiram o preenchimento de documentos com dados que o Estado já tinha".
Stress constante
"Tive de vender a casa, entreguei o escritório e comprei um apartamento maior, mais longe, onde trabalho", explica. A angústia do sistema e da Internet - que não perdoam entregas com um minuto de atraso (uma falha no site da Autoridade Tributária já lhe valeu uma coima de 200 euros) -, mais o stress das declarações mensais consecutivas, muitas com informação repetida e repetitiva, criaram o ambiente perfeito para conflitos familiares. "O meu filho saiu de casa".
José Araújo defende que "é preciso dizer basta: os contabilistas não são uma extensão da Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais, à custa da saúde e da vida pessoal". O candidato a bastonário da ordem que representa 67 mil contabilistas certificados diz que "já é tempo de terem um portal dedicado, como os advogados têm o Citius, além de linhas telefónicas exclusivas".
"A desmaterialização dos processos no Estado, o famoso Simplex, tem vindo a ser feita à custa das empresas e dos cidadãos. Tem vantagens e somos todos a favor, mas os benefícios devem ser repartidos", reclama o candidato, que considera que os contabilistas têm sido desrespeitados. "Adiar um prazo, de uma sexta para um domingo, é presumir que não temos direito a fim de semana. Este desrespeito não poderia vir do próprio Estado", remata.
Obrigações
IRS/IRC/SS
Todos os meses, até dia 12, enviam declarações mensais de remunerações, enviam informação à Segurança Social sobre contribuições para pagar até dia 20 e calculam fundos de compensação. Até dia 20, pagam IRS retido, IRC e imposto de selo. Até 25/28 de fevereiro, enviam o Modelo 10 com a informação já enviada mensalmente e o inventário da empresa. Até 31 de maio, enviam modelo 22. Pagamento por conta até 15 de dezembro.
IVA
Até dia 12, envio dos dados das faturas (IVA) do mês anterior através do SAFT. IVA pago até dia 25. Até dia 20, é enviada declaração periódica e a declaração recapitulativa. Até 30 de julho de cada ano, é enviada a declaração anual IES.