A pandemia gerou uma corrida desenfreada às bicicletas e, por consequência, aos incentivos atribuídos pelo Estado para a aquisição de veículos de baixas emissões.
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Os apoios para as "bikes" convencionais esgotaram em maio, dois meses após o lançamento do programa. A liderar os pedidos estão as bicicletas elétricas, com mais de 2416 candidaturas entregues, seguidas dos carros para particulares, cuja disponibilidade já foi superada.
Volvidos quatro meses da abertura das candidaturas aos incentivos do Governo, só sobra dinheiro para quem quer comprar veículos ligeiros de mercadorias elétricos ou bicicletas de carga. Ainda assim, ao JN, o Ministério do Ambiente garante que, "neste momento, não há previsão de reforço de verba", embora seja reclamado pelas várias associações.
Apesar de, este ano, o orçamento do Fundo Ambiental para a mobilidade elétrica não ter sofrido alterações (quatro milhões de euros), o montante destinado à compra de bicicletas quase triplicou em relação a 2020 (de 400 mil para 1 milhão).
"O aumento é relevante, mas é insuficiente para a procura, que tem crescido mais que a oferta, tendo aumentado de forma exponencial com a pandemia", nota Rui Igreja, da MUBi - Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta.
Os 50 mil euros atribuídos às bicicletas convencionais "voaram" em três semanas. E estão 670 candidaturas em lista de espera. "A comparticipação passou de 10% para 20% no valor da aquisição, no máximo de 100 euros, mas é uma percentagem diminuta, tendo em conta que uma bicicleta de entrada de gama custa entre 200 a 300 euros. O subsídio deveria ser até 100 euros", defende Gil Nadais, secretário-geral da Abimota.
Mais cheques e dinheiro
Os "cheques" para ajudar à aquisição de carros elétricos também já esgotaram, tendo sido recebidas 765 candidaturas. Neste momento, há 32 pedidos em lista de espera e seriam necessários mais 96 mil euros para responder às solicitações.
Cada particular poderá receber uma ajuda de 3 mil euros para um ligeiro de passageiros, com um valor máximo de 62 500 euros. "Não é suficiente", considera Helder Sánchez, da UVE - Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, que, no passado, já tinha proposto o aumento da verba para os seis mil euros em que se cifra a média europeia
Helder Pedro, da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), acrescenta que não só é necessário um reforço do montante, como do número de candidaturas. E discorda da opção do Governo de, este ano, eliminar o apoio às empresas na compra de ligeiros de passageiros, "dificultando-lhes a possibilidade de continuar renovar as suas frotas".
O Ministério do Ambiente explica que "as empresas têm já acesso a um pacote de benefícios fiscais, que consideramos atrativo, para aquisição de veículos de baixas emissões, particularmente elétricos". E lembra que continuam a ter acesso aos incentivos para veículos ligeiros de mercadorias e bicicletas de carga. Ambas geram pouco interesse.
Pormenores
Mais de 7 mil veículos
Entre 2017 e 2020, o programa permitiu a compra de um total de 7451 unidades: 4572 automóveis ligeiros de passageiros, 88 veículos ligeiros de mercadorias, 1995 bicicletas elétricas, 88 motos, 143 ciclomotores elétricos, 11 bicicletas de carga e 649 convencionais. O Fundo Ambiental contribuiu com cerca de 11,8 milhões de euros.
Acima de média da UE
Segundo a UVE, Portugal está em vias de atingir os 700 carregadores rápidos ou ultrarrápidos de veículos elétricos. A Comissão Europeia recomenda um carregador por cada dez veículos e Portugal apresenta uma média superior, aproximando-se dos quatro carregadores por cada dez veículos.