A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) ainda está a fazer uma avaliação do impacto global deste último confinamento no tecido comercial, mas avança que, no mínimo, "30% das lojas correm o risco de fechar".
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Sobretudo quando os empresários e comerciantes que aderiram às moratórias tiveram de assumir os custos de funcionamento e as dívidas aos bancos. No Porto, assim como nas outras grandes cidades, muitas lojas encerraram de vez. Para as sobreviventes, um terceiro confinamento seria, por isso "desastroso", numa altura em que é visível a "devastação causada pelos últimos meses de portas fechadas".
braga
Comércio resiste apesar das quebras
A pandemia conduziu a quebras de faturação no comércio tradicional de Braga que chegam a ultrapassar os 60%, mas os empresários mantêm-se resilientes. Quase todas as lojas do centro aguentaram o último confinamento e reabriram. Na restauração, até surgiram novas ofertas, como é o caso do Columbus Café. "O impacto do novo confinamento pode refletir-se mais tarde", considera Diana Alves, proprietária de uma loja de roupa. Rui Marques, diretor-geral da Associação Comercial de Braga, defende que as reaberturas "devem-se mais à injeção de capital por parte dos empresários do que aos apoios do Governo".
vIana do castelo
Vazio na "sala de visitas" da cidade
O centro histórico de Viana do Castelo perdeu três espaços emblemáticos. Mais algumas lojas encerraram em várias ruas, mas o maior vazio sente-se na Praça da República. A tradicional "Pastelaria Caravela", que enchia com uma grande esplanada a "sala de visitas" no coração da cidade, fechou no verão. Na mesma praça, encerrou, em fevereiro, a centenária "Casa Valença", loja de artigos regionais fundada em 1839. A tabacaria "Casa Africana", das mais antigas do ramo, encerrou na mesma altura. Segundo a Associação Empresarial de Viana do Castelo, a Rua Martim Velho foi das mais afetadas pela pandemia. Em contraciclo, abriu há quatro meses na Rua Manuel Espregueira, junto à Praça da República, uma loja "Cavalinho".
Vila real
Aguentou a casa além do que podia
O restaurante de tapas "Oh, Faxabor" foi um dos estabelecimentos de Vila Real que não resistiram aos efeitos devastadores da pandemia. Rui Ramos geriu a casa além do que podia, "porque havia um contrato de arrendamento para respeitar". Mas chegou a um ponto em que teve de encerrar. Diz que há outras lojas que não reabriram, mas o presidente da Associação Comercial e Industrial de Vila Real, Urbano Miranda, prefere esperar pelos próximos meses para fazer o balanço. "Ainda não podemos concretizar o verdadeiro impacto da pandemia". Na sua opinião, "vai depender da velocidade de recuperação da economia e se vai ajudar os empresários a resolver os problemas acumulados durante o último ano".
Aveiro
Na expectativa de melhores dias
"Aguentamos até aqui e estamos na expectativa de ultrapassar as dificuldades", conta Ana Andrezo, do Zeca, espaço que agrega loja de produtos turísticos e restauração em Aveiro e Coimbra. Ainda assim, confessa, são os apoios que lhes têm valido e a incerteza do futuro assusta. Chegaram a equacionar fechar a loja de Coimbra e decidiram protelar até maio a abertura da área de restauração em Aveiro. "Ainda é cedo" para perceber o impacto do segundo confinamento, diz Jorge Silva, da Associação Comercial de Aveiro. Os comerciantes "estão a fazer um esforço para não desistirem", acrescenta.
Coimbra
Não fecham mas adiam abertura
Em Coimbra, não há indicação de lojas encerradas, mas algumas das mais pequenas optaram por adiar a abertura. Só daqui a algumas semanas é que poderá haver "uma ideia mais precisa de como está a situação relativamente às lojas de rua", aponta a presidente da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, Assunção Ataíde. O novo confinamento implicou quebras muito grandes e a pandemia travou o crescimento que se estava a registar na zona histórica.
Lisboa
"A partir das 15 horas, é um deserto"
Vítor Teles, em 38 anos a arranjar sapatos na Baixa de Lisboa, nunca viu o coração da cidade tão triste: "Vê-se mais pessoas à hora de almoço nas esplanadas, mas a partir das 15 horas é um deserto". Sérgio Aguiar é dos poucos clientes na quarta-feira de manhã. "Sou da Amora, no Seixal, mas venho aqui porque já não existem sapateiros a trabalhar como este, é muito profissional", enaltece. Os elogios não chegam para o sapateiro fazer face ao prejuízo. "O meu trabalho é muito residual. As pessoas não saem de casa, não se vê ninguém nas ruas", explica. Desde o início da pandemia encerraram 111 estabelecimentos nesta zona da cidade, como a icónica loja Viúva Lamego com 170 anos, e prevê-se que fechem mais. Os comerciantes mais afetados foram aqueles que dependiam apenas do turismo.
*com A.P.F., E.P., J.C.C., S.C., S.F., Z.C.