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Casos mais críticos estão nas regiões do Algarve e de Lisboa. Sintra ganhou 2600 desempregados.
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Um em cada três concelhos de Portugal Continental ainda não recuperou o emprego perdido desde 2019, o último ano sem pandemia de covid-19. A faixa litoral entre Lisboa e Leiria e o Algarve são as regiões que perderam mais emprego. Numa altura em que a taxa de desemprego a nível nacional começa a aumentar, os especialistas anteveem uma subida ligeira este ano.
A maioria dos concelhos de Portugal Continental tem menos desempregados inscritos no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) do que no último ano antes da pandemia. Ainda assim, segundo os dados do IEFP, compilados pela Pordata, há 93 concelhos onde o desemprego aumentou, na comparação da média anual de 2019 e de 2022.
Em proporção, Odemira é o concelho com maior crescimento do número de inscritos (71%), seguido da Azambuja (42%) e Bombarral (41%). No entanto, em termos absolutos, é Sintra que regista a maior subida. Foram mais 2596 nos últimos três anos, o que supera muito o segundo concelho que mais subiu, que é Lisboa (mais 1630 inscritos), e o terceiro, que é Loures (mais 923).
Atenção a Lisboa e Algarve
Ao nível regional, é na faixa litoral entre Lisboa e Leiria que o desemprego mais subiu. O Algarve também tem concelhos no vermelho, como Olhão, Silves ou Faro. A capital do Algarve, com uma subida de 27%, é a capital de distrito que mais desempregados ganhou nos últimos três anos. Em sentido inverso, a capital de distrito que mais diminuiu o desemprego foi Aveiro, com uma redução de 18% do número de inscritos nos centros do IEFP.
Uma análise por faixas etárias dos inscritos permite perceber que é nos extremos que mais cresce o desemprego. O número de inscritos com idade compreendida entre os 25 e os 34 anos subiu em quase metade dos municípios de Portugal, ao passo que o número de inscritos com 55 ou mais anos é maior em 54% dos concelhos.
Ricardo Ferraz, docente e investigador na área do trabalho, fala num "evidente desencontro" entre as expectativas das empresas e dos jovens licenciados. Por um lado, "as empresas tendem a dar primazia à contratação de pessoas com experiência profissional". Por outro, os jovens licenciados que investiram "anos de vida na sua formação académica" estão "pouco disponíveis a concorrer a anúncios relativos a empregos menos qualificados".
Projetada nova subida
O docente salienta que os 70 mil desempregados que Portugal ganhou no ano passado representam "o maior aumento em toda a União Europeia". Tudo leva a crer que "a taxa de desemprego deste ano vai ser superior à do ano passado, que se fixou nos 6%", o que significa que a projeção de 5,6% que consta do Orçamento do Estado para 2023 "parece muito pouco provável de se concretizar", acrescenta.
João Cerejeira, igualmente docente e investigador na área do trabalho, antevê "que o desemprego cresça um pouco, não muito, porque não há perspetivas de recessão". O docente sublinha que o aumento do desemprego "tem, essencialmente, a ver com a passagem de inativos para a condição de desempregado", pois "não há uma quebra de emprego significativa". Por outro lado, a economia portuguesa "não tem sido capaz de criar emprego suficiente para acomodar esta oferta de trabalho adicional".
Há, assim, um desajustamento entre os candidatos e os empregos disponíveis, num fenómeno que "pode ter sido agravado pela pandemia, que trouxe algumas alterações estruturais no mercado de trabalho", como a maior procura por profissões digitais ligadas ao conhecimento.
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Projeções em breve
A projeção da taxa de desemprego para este ano deverá ser atualizada pelo Banco de Portugal até ao final desta semana. Em janeiro deste ano, estava em 7,1%, superior aos 6,1% da média da União Europeia. O Orçamento do Estado previa 5,6% no fim do ano.
Oito mantêm-se
Há oito concelhos onde não se registou evolução do número de desempregados inscritos no IEFP. Um deles é o Porto, a única capital de distrito sem variação registada.
Lisboa lidera inscritos
O concelho de Lisboa é aquele que tem mais cidadãos inscritos no centro de emprego. Em segundo está Gaia, que perdeu mais de 3700 inscritos, e em terceiro está Sintra.
Taxa estável lá fora
A taxa de desemprego estabilizou nos 4,9% há sete meses seguidos na OCDE. Na União Europeia, baixou de 6,3% para 6,1% e, na Zona Euro, reduziu de 6,9% para 6,7%. Nos Estados Unidos, também diminuiu de 3,5% para 3,4%, que é o valor mais reduzido dos últimos 50 anos.
Duas áreas de inscritos
Construção civil e imobiliário foram as áreas que mais contribuíram para o aumento do número de inscritos em 2022.
