Desemprego cresceu duas vezes mais em Lisboa do que no Porto em ano de pandemia
Dados dos centros de emprego mostram que concelhos da região da capital estão pior do que há um ano, quando o país entrou no primeiro confinamento geral.
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Um ano depois do primeiro confinamento geral do país, o concelho de Lisboa atingiu em abril deste ano um aumento de 37,5% no desemprego registado nos centros do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). São mais sete mil pessoas do que em abril de 2020, primeiro mês completo de confinamento do país e quando começaram a sentir-se os impactos da pandemia no mercado de trabalho.
No concelho do Porto, comparando o mesmo período, o desemprego aumentou 18,5%, ou seja, metade do registado em Lisboa.
Numa ordenação dos municípios com mais pessoas inscritas no IEFP em abril do ano passado, a capital surgia na posição 140. Mas, num ano, saltou 134 lugares, ficando em sexto lugar no ranking dos concelhos com maior aumento de desempregados registados. Por sua vez, o Porto subiu 196 degraus, passando a ser o 35.º município com um acréscimo mais significativo de inscritos nos centros do IEFP. O Instituto do Emprego apenas disponibiliza dados do desemprego registado por concelhos para o continente (278 concelhos).
Em mais de metade dos municípios (145) verifica-se um aumento do número de desempregados, em 46,6% (130 concelhos) há uma descida e em três não ocorre qualquer alteração (Gouveia, Murtosa e Vila Nova de Paiva).
Um ano depois, uma análise mais fina ao nível concelhio dos dados do desemprego registado em tempo de confinamento, permite perceber que há uma maior dispersão territorial dos efeitos da crise sanitária no emprego. Já não são apenas os concelhos com forte componente turística os mais afetados, como aconteceu na primavera de 2020, apesar da preponderância destes, como é o caso dos municípios da região de Lisboa e Vale do Tejo.
Impacto no Algarve
Em abril de 2020, comparando com o mesmo mês de 2019 (ano sem pandemia), o distrito de Faro, muito dependente do turismo, aparecia à cabeça com um aumento generalizado em todos os seus concelhos. Por exemplo, em Albufeira, o número de inscritos trepou 335%, de 1251 pessoas em abril de 2019, para 5437 indivíduos um ano depois. Nas primeiras 30 posições dos concelhos com o maior acréscimo de desempregados, metade eram ocupadas pelos municípios algarvios.
A explicar esta predominância de desemprego em massa no distrito de Faro está a forte dependência do turismo, que foi uma das atividades mais atingidas pela crise pandémica, devido às restrições de movimentos e encerramento das fronteiras.
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Um ano depois, e tomando mais uma vez por referência os 30 concelhos com maior aumento do número de desemprego registado, o distrito de Lisboa ocupa oito lugares (metade dos municípios), os mesmos que Faro.
Mas também os concelhos do interior do país surgem agora no topo da lista dos que registam maiores acréscimos relativos, como Meda, no distrito da Guarda e Torre de Moncorvo, em Bragança, ou concelhos dos distritos de Vila Real e Viseu, significando que os impactos estão agora mais disseminados em todo continente.
Entre os que conseguiram uma redução acima de 30% estão os concelhos de Santiago do Cacém, Sines (distrito de Setúbal), Arronches (Portalegre), Paredes de Coura (Viana do Castelo), Ourique (Beja) e Alcoutim (Faro).
Evolução
8%
Aumento do número de desempregados inscritos no IEFP em abril deste ano, face ao mesmo mês de 2020. Inclui dados das ilhas.
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Pessoas em formação no mês de abril e que não contam para as estatísticas do desemprego registado, mais 45,5% do que há um ano.
Impacto de um ano tumultuoso no trabalho
População
Menos 2,1% com emprego
Decorrido um ano de pandemia, o Instituto Nacional de Estatística divulgou ontem uma síntese do impacto da doença em Portugal a vários níveis. Na parte laboral, houve uma redução de 2,1% da população empregada entre março de 2020 e fevereiro 2021, face aos 12 meses anteriores.
Picos
Maio e agosto, meses críticos
No período considerado, o valor mais baixo da população empregada foi atingido em maio de 2020 (4,573 milhões de pessoas). Já o valor mais elevado de pessoas desempregadas registou-se em agosto de 2020, com 408 mil indivíduos sem trabalho.
Em alta
Subutilização do trabalho
No primeiro ano de pandemia, a subutilização do trabalho abrangeu, em média, 761 mil pessoas, mais 11,7% face a um ano antes.
Remunerações
Salários registaram uma subida
A remuneração bruta mensal média aumentou 3,2% para 1014€. A redução do emprego atingiu sobretudo as pessoas com remunerações mais baixas, "determinando uma alteração da estrutura salarial na economia".