Torre de Moncorvo: "Aqui não há indústria nem grandes empresas. Só restauração"
No segundo concelho onde mais aumentou o desemprego, faltam oportunidades.
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A jovem saiu do concelho para estudar e regressou à terra. Só que não consegue arranjar emprego na sua área. "Trabalho numa loja, pois foi o que consegui. Aqui não há indústria nem grandes empresas. Só aparecem lugares na restauração, um setor que exige muito trabalho", explicou Solange. A jovem salientou que ela até trabalha, mas muitos outros foram obrigados a emigrar.
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O concelho de Torre de Moncorvo foi o segundo a nível nacional que maior subida percentual registou no número de desempregados inscritos no centro de emprego num ano. A subida foi de 45,9%. Se em abril de 2020 eram 268 os inscritos, um ano depois já eram 391, com cerca de 8500 habitantes (Censos 2011).
Solange diz que os jovens deixam o concelho "por falta de oportunidades", ainda que muitos gostassem de ficar. Ela já não pensa em partir. "Tenho dois filhos e a vida organizada. Só que não estou a ver possibilidade na área da Engenharia Alimentar. Vou trabalhando naquilo que aparece. Esta é a nossa realidade", acrescentou a jovem.
Quem também enfrentou dificuldades para se empregar em Torre de Moncorvo na área de estudo foi Conceição Soares. Estudou Educação de Infância, trabalhou em várias zonas do país, e acabou por voltar a Trás-os-Montes, onde arranjou emprego num centro de dia. "Temos de aproveitar o que há. Já trabalho com idosos há nove anos. Adaptei-me. Aproveitei o pouco que aparece", contou Conceição.
Empresas queixam-se
Do lado das empresas, às vezes procura-se gente e não se encontra. António Botelho, proprietário do Restaurante O Botelho, nem sempre consegue arranjar trabalhadores. "Antes da pandemia ia ao Centro de Emprego e tinha sempre dificuldade em conseguir alguém para servir à mesa ou para a cozinha, porque os inscritos ou não estavam qualificados ou não queriam este trabalho, porque é preciso trabalhar à noite", explicou o empresário que atualmente tem dois funcionários "porque o serviço reduziu", acrescentou.
António Botelho reconhece que o concelho "está muito parado" e precisava de grandes obras de construção civil, fábricas ou pelo menos da reativação da exploração das minas de ferro "em força" para ocupar os mais novos e "gerar movimento e alavancar outros setores".
O trabalho sazonal na agricultura vai tapando os buracos e as jeiras desenrascam alguns. "Vou trabalhando quando me chamam, nem sempre aparece o que fazer. Ganho entre 50 e 60 euros/dia, não dá segurança nenhuma", garantiu António Lopes, 58 anos.
Outros concelhos do distrito de Bragança, de dimensão semelhante ao de Torre de Moncorvo, registaram descidas no número de desempregados, como foi o caso de Miranda do Douro, que num ano baixou 21% (de 200 passou para 158 inscritos no Centro de Emprego) ou Vila Flor, com uma redução de 13,1% (de 291 baixou para 253 inscritos).
O "Jornal de Notícias" procurou saber a opinião do presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, Nuno Gonçalves, sobre os dados do desemprego no concelho, mas este não respondeu a quaisquer questões até à hora de fecho desta edição.
Num dos picos da pandemia, em janeiro, Torre de Moncorvo surgia no mapa da DGS como concelho de risco elevado, com um registo de 312 novos casos de covid por 100 mil habitantes, isto é, mais do dobro do limite para confinar ou desconfinar.