Associação Feiras e Mercados da Região Norte teme pelo futuro do setor.
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Pio Castro Barros, comerciante de alambiques, cubas, crivos e peneiras, residente em Fafe, ocupou ontem o seu lugar na feira de Ponte de Lima, por entender que a deslocação de 170 quilómetros, ida e volta, àquela vila minhota compensava em termos económicos. Foi dia da "feira da Páscoa", como lhe chamam os feirantes, em alusão à proximidade da quadra pascal, e a localidade fervilhava de gente. Mas nem sempre tem sido assim.
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Desde que os combustíveis subiram para lá da barreira dos dois euros, Pio Barros alterou os seus hábitos. Reduziu para metade o número de feiras a que vai, principalmente as que se realizam em localidades mais distantes da sua residência, como a de Coimbra. "Estamos a reduzir às feiras. Só estamos a vir uma vez por mês porque o gasóleo está bastante caro. Onde antes fazíamos duas feiras, fazemos uma só", disse o feirante de Fafe, que até o aumento dos combustíveis começar a afetar a sua atividade percorria "cerca de 1500 quilómetros por mês".
"Ultimamente só faço metade. Castelo de Paiva, são duas feiras (por mês), vamos a uma, Marco de Canaveses, também são duas, vamos a uma, Cinfães, só a uma", descreve, comentando que fazia a feira de Coimbra, mas o custo da deslocação leva-o a ficar em casa.
"De Fafe até lá são 190 quilómetros para cada lado, tenho um gasto mais ou menos de 200 euros, mais comer, beber e portagens, não ganho sequer, às vezes, esse dinheiro. Não dá para a gente trabalhar", lamenta o feirante, acrescentando: "Se agora faço metade, provavelmente nem isso vou fazer daqui a algum tempo, se continuar da forma que está. E não é para mim, é para toda a gente. Todos se queixam".
Machadada
Segundo a Associação Feiras e Mercados da Região Norte (AFMRN), a inquietação do comerciante de Fafe é geral, face à conjuntura "taxas, pandemia, gasóleo". "Temo pelo futuro das feiras. Primeiro lutamos com a pandemia, depois temos a questão do aluguer dos terrados e agora o aumento dos combustíveis foi uma machadada", afirma Manuel Peixoto, dirigente da associação e comerciante de toalhas. "Sei de vários casos de feirantes que optam por não vir, se está mau tempo, se sabem que correm o risco de não montar [a tenda] e ainda têm o preço do gasóleo".
Além da redução do número de feiras, há quem no setor opte por outras estratégias de poupança nos combustíveis. É o caso da empresa de mobiliário Flor do Cávado, que sai de Barcelos para várias feiras do Norte do país. Estaciona o veículo que transporta o mobiliário numa zona estratégica, que lhe permita fazer, principalmente, as feiras do Alto Minho sem ter de fazer várias deslocações à origem. "Temos um camião pesado e faço por deixá-lo em Valença, durante uma semana, para não andar sempre a transportá-lo para Barcelos. Comecei a fazer isso agora para não ter uma despesa tão grande", comenta Raul Fernandes, indicando que "sempre que pode vai abastecer a Espanha". "Fazemos 1000 a 1200 quilómetros por semana. A maior despesa que temos é com os combustíveis. Ainda não reduzimos às feiras, mas estou a pensar nisso", conclui.