Nível total dos valores das empresas, particulares e setor público fixou novo montante histórico em dezembro.
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No ano em que Portugal foi fustigado com uma das maiores crises económicas de sempre, o endividamento das famílias disparou para o nível mais alto em quatro anos. No total, o nível de dívida das famílias cresceu 2,3 mil milhões de euros para os 141,3 mil milhões de euros, de acordo com os dados divulgados ontem pelo Banco de Portugal.
No total, o endividamento das famílias, empresas e setor público aumentou 3,8% em 2020 e fechou o ano num novo recorde de 745,8 mil milhões de euros. Deste montante, 342,5 mil milhões de euros correspondem a dívida do setor público e 403,3 mil milhões de euros ao endividamento do setor privado.
O endividamento da economia disparou e corresponde já a 268,8% do produto interno bruto português (PIB). "O drama vai ser quando todos saírem da piscina. Vamos ficar atolados numa piscina de lama", disse o economista João Duque.
No caso dos particulares, as moratórias terão contribuído para esta subida diária de 6,3 milhões de euros do endividamento. "Este aumento do endividamento (nas famílias) também decorre de uma questão técnica já que as moratórias estão a impedir a amortização de dívida", disse Filipe Garcia, economista da IMF-Informação de Mercados Financeiros. "Enquanto as moratórias não expirarem, a dívida vai continuar a aumentar, não tenho dúvidas", afirmou.
Portugal adotou um regime de moratórias no crédito que permite que fique suspenso o pagamento de prestações dos empréstimos de famílias e empresas. A moratória pública, que abrange inclusive o crédito à habitação, estará em vigor até ao final de setembro deste ano. O Banco de Portugal estima que o montante que não vai entrar nos cofres dos bancos no período rondará os 13 mil milhões de euros, dos quais 2 mil milhões correspondem a créditos de famílias.
As empresas também são abrangidas por moratórias no crédito. "O pior está nas micro e nas pequenas empresas que precisam de liquidez para que os empresários e alguns funcionários tenham dinheiro para sobreviver", apontou João Duque.
O economista lembrou que, apesar das taxas de juro estarem em níveis historicamente baixos, não irão ficar assim para sempre e que já há sinais de poder haver uma inversão na tendência. "Assim que as coisas começarem a melhorar, a questão é o que vão começar a fazer", frisou.
"Quem está endividado é que deve estar preocupado. Ninguém sabe como vai ser a recuperação económica", salientou Filipe Garcia.
Ascensão
Economia
O endividamento da economia subiu para 745,8 mil milhões de euros em dezembro, mais 0,4% face a novembro e 3,8% em comparação com igual mês de 2019.
Particulares
No setor privado, registou-se a subida anual do endividamento dos particulares em 2,3 mil milhões de euros em dezembro, "com o financiamento obtido junto do setor financeiro a evidenciar-se", aponta o Banco de Portugal.