Instalação de vinhas em zonas mais altas e a opção por castas mais resistentes à seca são soluções.
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Períodos de seca extrema, ondas de calor, chuvadas fora de época e violentas trovoadas acompanhadas de granizo. Estes são fenómenos que tendem a ser relacionados com alterações climáticas e que se notam mais a cada ano que passa no Douro Vinhateiro. Mas, não sendo a zona mais afetada no país, há soluções em estudo para as mitigar.
Embora reconheça que o clima tem vindo a mudar na região duriense, João Santos, professor e investigador na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), recomenda "alguma cautela" na hora de "atribuir os eventos extremos às alterações climáticas". É que "a seca sempre fez parte do clima em Portugal e não se pode dizer que a atual é o resultado dessas mudanças". A certeza que dá é que "chove menos no país" e "todas as projeções para as próximas décadas apontam para a continuação dessa tendência".
Sobre impacto na viticultura, João Santos volta a recomendar "cuidado" porque "a videira é uma planta muito bem adaptada ao clima mediterrânico". Entende que as maiores preocupações devem ser dirigidas para as "plantações de arroz, milho, outros cereais e hortícolas em geral", porque "consomem muita mais água do que a vinha, o olival ou o amendoal".
Equacionar medidas
Porém, "a capacidade de as videiras se adaptarem tem limites". Logo, "vai ser necessário equacionar medidas". Para já, "melhorar as práticas culturais" e, a médio e longo prazos, "desenhar as vinhas para microclimas, exposições solares, altitudes e sistemas de condução da videira diferentes". Por outro lado, optar por "castas, clones e porta-enxertos" que se adaptem melhor. Não obstante, é preciso ter sempre em conta "as expectativas do produtor" e a "análise de custo-benefício", pois a instalação de um sistema de rega, por exemplo, "tem custos elevados".
A diretora-geral da Associação de Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID), Rosa Amador, tem defendido a urgência da criação de armazenamento da água da chuva ou de estações de tratamento de águas residuais". É que as projeções de que dispõem apontam para "menos chuva durante o período vegetativo da videira". O objetivo é "diminuir o stresse hídrico e criar condições para a planta continuar a trabalhar".
Fenómenos extremos
As projeções também destacam mais fenómenos extremos, como a queda de granizo. A ADVID integra um comité - inclui a associação ProDouro, a UTAD, as adegas de Sabrosa e Favaios (Alijó) e as autarquias dos dois concelhos - que pretende adquirir serviços que permitam evitá-los.
A aplicação de caulino nas videiras também está a ser estudada para "diminuir a incidência do escaldão e a evaporação da água da planta", conclui Rosa Amador.
Autarquias
Planos para salvaguardar viticultura
A Comunidade Intermunicipal do Douro, que junta 19 municípios de Bragança, Vila Real, Viseu e Guarda, tem um plano de ação com 25 medidas para ajudar a aumentar a resiliência e a mitigação dos riscos das alterações climáticas na região vinhateira. O plano olha para todos os setores, mas é na produção de vinho que reside a maior preocupação, ou não fosse a principal atividade económica e que alimenta outras à volta, como o turismo. O plano engloba, como principais medidas, a deslocalização das vinhas para zonas mais altas e frescas, variedades de videiras mais adaptadas ao stresse térmico e hídrico, novas práticas culturais e sistemas de condução que permitam aumentar a eficiência do uso da água.
Informação
Linhas orientadoras
Em clim4vitis.eu pode consultar um documento com linhas orientadoras para adaptação do setor vitivinícola europeu às alterações climáticas. Há também um vídeo e informação simplificada de fácil perceção.
Projeções climáticas
No site da ADVID há uma ligação para a plataforma AdvidClim na qual são apresentadas as projeções climáticas para Portugal Continental em 2020, 2050 e 2080 sob diversos cenários de gases de estufa.
Verão dramático
"Se não chover nas próximas semanas será praticamente impossível reverter a situação e o verão será dramático", diz João Santos