André Saramago e Fátima Rocha viram as empresas onde trabalham fechar com a atual pandemia. Ele é encarregado numa metalúrgica e está em lay-off.
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Ainda não recebeu, mas faz as contas por alto e sabe que vai ter um rombo de 400 euros no salário. Ela é rececionista num ginásio, está a recibos verdes e pediu o apoio extraordinário do Estado para trabalhadores independentes. Recebeu 270 euros.
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Ainda o país não tinha entrado em estado de emergência quando André, 31 anos, viu a empresa onde trabalha ser forçada a parar. Fica em Ovar e a 18 de março ele já não foi trabalhar, resultado da cerca sanitária que foi instalada no concelho. Quinze dias depois recebeu uma carta a informar do lay-off. Por esta altura, já devia ter sido pago, mas a conta bancária não dá sinais disso. "O Estado garante uma parte, mas é preciso que a empresa tenha fundo de maneio para garantir a outra", reconhece quem viu a fábrica ser impedida de enviar material já pronto. "Isso implicou uma grande perda. É natural que esteja a ter dificuldades em fazer os pagamentos".
Despesas são muitas
Apesar de ainda não ter recebido, já fez as contas: "Sei que vou perder à volta de 400 euros de salário". Por azar, comprou casa, com a namorada, em fevereiro. "Estou a pagar o empréstimo, além da água, luz e gás e da alimentação. Neste mês gastei mais de 300 euros em supermercado", diz. Não tem perspetivas para o regresso ao trabalho e ainda carrega o medo de "ficar sem emprego".
Fátima Rocha está mais esperançosa: "O ginásio só deverá abrir lá para junho, mas estou a contar regressar". Tem 32 anos e trabalha a recibos verdes num ginásio de S. João da Madeira há quase dois. Antes de fechar, já ela andava preocupada e atenta a apoios para trabalhadores independentes. Afinal, "não podia ficar sem receber". "O ginásio fechou a 14 de março e continuei em teletrabalho até final do mês. Depois, dispensaram-me". Não esperou nem um dia. A 1 de abril, preencheu o formulário na plataforma Segurança Social Direta a requerer o apoio do Estado. "É simples, tenho que preencher todos os meses".
Sabe que o máximo que pode receber são 635 euros e tem noção que não atingirá esse valor. Na conta, caíram 270 euros referentes a 20 dias. "Uma miséria, não dá para nada e continuo a pagar Segurança Social. Apesar de terem adiado o prazo de pagamento, não posso acumular, ia custar-me muito mais", confessa. Conseguiu reduzir de 124 para 75 euros esse valor. "Aquilo que fazia sentido era não pagar", diz.
Vive com a mãe, o que é um alívio. "Não pago renda, mas ajudo em casa. A minha sorte foi ter recebido o salário total de março, como não tive muitos gastos permitiu-me poupar para esta fase".