Maria Asensio é uma teletrabalhadora feliz na Função Pública, mas admite que nem todos possam aderir ao regime.
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Há 24 anos trocou Espanha por Portugal, onde sempre esteve empregada em organismos da Administração Pública (AP). Atualmente, é investigadora principal da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público e uma das quatro funcionárias a trabalhar à distância. Está nessa condição desde setembro de 2018, devido a um problema de saúde. Teve de "aprender tudo de novo, a criar disciplina e rotinas e também a saber separar a vida profissional da vida familiar, porque um dos perigos do teletrabalho é que essa conciliação se torna difícil e o conflito profissional fica em casa".
Foi-lhe disponibilizado um portátil, mas teve de usar o seu, mais leve, como os médicos aconselhavam, ainda que incompatível com o software do sistema biométrico. Ou seja, Maria deixou de marcar o ponto: "Não tinham um computador, como eu necessitava - estamos na Função Pública, temos de aceitar as condições e as limitações. Por isso, permitiram que deixasse de estar sujeita a esse controlo, que era algo que me deixava sempre tão enervada".
Teve de assumir as despesas da eletricidade, da água e do serviço de Internet. E teve de encarar outra nova realidade: o isolamento e o afastamento dos colegas. "É verdade, não falo com todos, não há o mesmo contacto. É normal".
Maria perdeu, mas também sente que ganhou em produtividade: "Acaba-se por dar prioridade de forma muito mais clara aos objetivos a atingir, deixa-se de ter tantas interrupções. Trabalha-se e gere-se a agenda de forma mais inteligente. E, por isso, sinto que fiquei mais focada, com mais tempo para trabalhar e, por isso, mais produtiva."
Desafios da pandemia
Durante o confinamento, foi difícil gerir as "duas vidas", ter de lidar com duas filhas adolescentes para quem "não foi nada fácil" aceitar as regras do estado de emergência. Os 15 dias em que elas estavam com o pai, Maria "passava-os a trabalhar, trabalhava muito mais horas", mas também descansou mais, porque não saía de casa, em Algés.
A experiência da Função Pública que esteve em teletrabalho "provou que a modalidade funciona", mas é preciso pensar que não pode ser extensível a todos: "Há uma AP muito desigual, nem todos os trabalhadores têm o mesmo perfil, as mesmas condições. Não se pode comparar a vida da Maria, que trabalha na área de investigação, tem um salário razoável, com a do assistente operacional, para quem é importante sair de casa para trabalhar. Para muitas mulheres, não é um sacrifício, mas um escape de um quotidiano doméstico pesado."
Esta também foi "uma boa oportunidade de aprendizagem para os dirigentes" e que até pode vir a favorecer a necessária mudança de cultura organizacional para que esta forma de trabalho seja mais efetiva no futuro: "Há organismos que não são, de todo, facilitadores do teletrabalho. Era pelo menos essa a posição antes da covid-19, admito que agora possa ter mudado...".