Associação Empresarial da Beira Baixa afirma que grave escassez poderá até colocar em causa a sobrevivência das empresas ali sediadas.
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Existem empresas em Castelo Branco que querem contratar mas não aparecem interessados. É o caso da multinacional APTIV (Ex-Delphi), que se dedica à produção de cabos elétricos para automóveis. A unidade iniciou em 2020 um projeto de expansão na cidade, que incluiu a abertura de um terceiro pavilhão fabril, para a fabricação de cabos para carros e tratores elétricos.
Com mais de mil trabalhadores, a empresa vê-se obrigada a delinear e custear a viagem de pessoas, em autocarros, de outras regiões mais distantes, como Guarda ou Portalegre, para colmatar esta mão de obra na maior empregadora fabril do concelho. Segundo Francisco Matias, dirigente do Sindicato Nacional da Indústria e Energia, a APTIV realizou em junho 400 entrevistas para contratação de pessoal. Apenas seis aceitaram a oferta. O caminho para empregar cerca de 500 pessoas está assim a ser difícil.
Este é um exemplo, entre outros que afetam também a fileira da restauração, da falta de mão de obra que obrigou já a Direção da Associação Empresarial da Beira Baixa (AEBB), em funções desde abril, a agir. Reuniu com duas comunidades intermunicipais e vai elaborar um estudo sobre as necessidades das empresas em termos de recursos humanos.
Ana Palmeira, a presidente da Associação Empresarial da Beira Baixa, frisa que este é um problema "transversal" neste território e que urge "encontrar soluções, quer sejam elas municipais, estatais, inter-regionais, entre outras".
Falta de recursos
Uma coisa é certa: "Este é um tema que deve entrar na campanha também em Castelo Branco. É urgente atuar, porque esta falta de mão de obra, quer seja especializada ou indiferenciada, pode estar ou vir a afetar os planos das empresas, numa perspetiva de crescimento", anota a empresária. Neste caso, "ou a empresa suspende o crescimento ou transfere a laboração".
A dirigente entende que "o corredor da imigração" deve ser um cenário a encarar, tal como o da reconversão profissional.
"Estabelecer ligações com outros países que possam ter recursos interessados em trabalhar em Castelo Branco e permitir que possam fazer aqui a sua vida", acentua Ana Palmeira.
A qualidade de vida, continua, "já não é o maior problemas das cidades do interior, mas sim o populacional, o envelhecimento e a não fixação de pessoas".
Por outro lado, "há que construir uma imagem comunicacional de que existem empregos por preencher em Castelo Branco, tal como, repito, na região. Trabalhar no Interior não pode continuar a ser encarado como um estigma", afirma. Ana Palmeira quer que os partidos candidatos nas autárquicas "digam claramente como pretendem resolver este problema, que tenderá a agudizar-se com o passar dos anos. Até colocar em causa a sobrevivência das empresas aqui sediadas".
Quais as propostas que defende para captar e fixar população?
Leopoldo Rodrigues, candidato do PS
"Propomos emprego de qualidade e qualificado. Atrair ou fixar jovens licenciados e pessoas diferenciadas com creches gratuitas, deduções no IRS, baixar o preço do abastecimento de água e criação de habitação com rendas favoráveis. Queremos atrair empresas, mas também fomentar o crescimento daquelas que o podem fazer. É com investimento público e privado que este problema da falta de mão de obra se pode reduzir".
João Belém, candidato do PSD/PP/PPM
"O município tem elevado potencial financeiro para atrair empresários e projetos que seduzam os jovens. Queremos a redução da TSU às empresas que criem emprego jovem qualificado, vouchers para financiar as despesas em creches, a gratuitidade da alimentação dos alunos até ao 1.º Ciclo, a devolução do IRS, redução das taxas que incidem sobre a água, a devolução do centro da cidade à atividade comercial e revitalização da Zona Histórica".
Felicidade Alves, candidata da CDU
"A política de baixos salários e de precariedade leva a que os jovens emigrem. Algumas empresas já estão a pagar acima da tabela para fixar trabalhadores. Defendemos incentivos na criação de habitação com rendas acessíveis, transportes com passe intermodal, transportes escolares, tempos livres e creches. O conhecimento que temos sobre os anseios dos jovens é que precisam de trabalho com direitos, que conciliem trabalho com vida familiar".
Margarida Paredes, candidata do BE
"O BE lutará contra a desertificação no concelho criando um programa de incentivos, com inscrição online, para atrair jovens millennials. Para se fixarem nas freguesias desertificadas, os candidatos terão um subsídio de instalação a fundo perdido. Casas requalificadas pela Autarquia de renda limitada. Preços reduzidos na rede de transportes e reforço da rede móvel e Internet. A inscrição no programa será realizada online através de um site criado para o efeito".