Empresas e Estado financiam-se junto dos fornecedores ao retardar os pagamentos
As empresas e o Estado estão a financiar-se através dos fornecedores, alertou, esta quarta-feira, o presidente da Intrum Justitia, Luís Salvaterra, lembrando que os atrasos nos pagamentos são responsáveis por 25% das falências.
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De acordo com um estudo da consultora sueca, divulgado esta quarta-feira, os atrasos e pagamentos em dívida tem graves consequências para as empresas, sobretudo num contexto de crise económica, implicando problemas de liquidez que afetam 80% das empresas nacionais
Em 2012, o Estado continuava a ser o pagador mais lento em Portugal e nos 28 países europeus analisados pela Intrum Justitia.
No caso português, a diferença entre o prazo contratado médio (50 dias) e a data de pagamento efetiva nos negócios entre empresas era de 40 dias, mas as faturas do Estado demoram cerca de 4,6 meses a pagar, implicando um atraso médio de 79 dias face às condições contratadas (57 dias)
"O Estado continua a ter um prazo mais dilatado do que as empresas, pondo em risco a competitividade e sobrevivência das mesmas. Se as empresas só recebem a 90 dias, como se vão financiar? Ou recorrem à banca, e sabemos as dificuldades existentes, ou deixam de pagar aos fornecedores. As empresas, em vez de se financiarem na banca estão a financiar-se através dos fornecedores e isto é um problema estrutural", salientou Luís Salvaterra.
O responsável da Intrum Justitia justificou que o problema se deve "aos hábitos que se foram criando", mas tem também a ver com a legislação, o funcionamento dos tribunais e a falta de profissionalização de muitas empresas em termos de gestão de crédito e cobranças.
O facto de o Estado não pagar tem um impacto significativo na economia: "As empresas que negoceiam com o Estado têm grandes dificuldades de recebimento. Isso desacredita o país perante as multinacionais que deixam de investir em Portugal e vão-se embora, mas o Estado não está a olhar para este problema".
Luís Salvaterra sugeriu que podia ser adotada uma solução semelhante à que está a ser aplicada em Espanha e que resulta de um acordo com a banca para injetar dinheiro nas autarquias, para que estas possam pagar aos fornecedores.
"Se não for injetado mais dinheiro na economia real para permitir pagar aos fornecedores vai ser mais difícil sobreviver e vai haver muitas falências", admitiu.
O estudo da consultora sueca abrangeu este ano mais três países do que os 25 normalmente incluídos (Bulgária, Roménia, Eslovénia) e envolveu quase 8 mil questionários para identificar os riscos de pagamento em Portugal e na Europa a nível de empresas, Estado e particulares.
Portugal foi incluído no topo dos países com maior risco de pagamento, juntamente, com a Grécia, alcançando um índice de 190, face aos 160 da média europeia.
Luís Salvaterra observou que os riscos têm aumentado constantemente desde 2007, em Portugal e na Europa, agravando a percentagem de incobráveis que atingiam em 2012 os 2,8% na Europa (3,6% em Portuga), representando uma perda de 340 mil milhões de euros, um valor superior aos resgates de Portugal, Irlanda e Grécia.