Escassez de componentes atrasa produção de novos e adia a troca. Ainda assim, vendas em segunda mão deram bons sinais de crescimento em março e abril.
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A pandemia fez aumentar a procura por carros usados e um dos motivos prende-se com a falta de veículos novos no mercado, devido à escassez de componentes na indústria automóvel. Ou seja, a falta de oferta de novos empurra os compradores para os usados, mas este segmento também não consegue responder à elevada procura.
Março e abril deste ano deram já bons sinais ao mercado de usados, com um crescimento de vendas de 22% e 112%, respetivamente, face aos mesmos meses do ano passado. No entanto, nos primeiros quatro meses de 2021 verifica-se um volume de transações "18% abaixo do que aconteceu em 2019" e "muito semelhante ao mesmo período de 2020", de acordo com o mais recente barómetro do Standvirtual e da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP),
"Apesar de tudo, o mercado tem vindo a melhorar", salienta o secretário-geral da ACAP, Hélder Pedro, enquanto Nuno Castel-Branco, diretor-geral do Standvirtual, nota que "há procura" para os carros usados. Só não se vendem mais porque "há quebra de produção de 30% a 40% de carros novos face a 2019". A justificação é a "falta de componentes no mercado" gerada pela pandemia. Ora, como os rent-a-car e os gestores de frota, entre outros operadores, não recebem novos, também "não alimentam o comércio de usados". Por outro lado, "com falta de novos, as pessoas também não trocam e aguentam o usado mais algum tempo". A situação não é exclusiva de Portugal, pelo que "a importação não resolve o problema". O diretor do Standvirtual estima que "só em finais de 2022 é que esta situação poderá estar resolvida".
Efeito da pandemia
O secretário-geral da ACAP não tem dúvidas de que "a maior procura de usados é justificada pela pandemia". Explica que "as pessoas deixaram de usar tanto os transportes públicos e tentaram arranjar soluções em conta para as suas deslocações diárias". Mas também destaca que "a confiança nos usados tem vindo a aumentar".
O presidente da Associação Nacional do Ramo Automóvel (ARAN), Rodrigo Ferreira da Silva, entende que "a crise económica introduziu uma alteração de comportamento". Dá um exemplo: "Uma pessoa que pode estar disposta a comprar um carro novo por 30 mil euros opta por um usado que custa 20 mil e sempre fica com 10 mil de parte, porque não sabe o dia de amanhã". Ou seja, "há uma transferência de compra de novos para usados".
Luís Lopes, diretor da CarNext em Portugal, também confirma que "as pessoas estão mais disponíveis para comprar, sobretudo, uma viatura usada do que estavam antes da pandemia". Acrescenta que "a tendência é europeia e não só portuguesa", como o demonstra um barómetro de mobilidade feito por esta empresa comercializadora de carros usados na Internet e em espaço físico.
Apesar de haver falta de veículos novos no mercado, sejam ligeiros ou pesados, segundo dados do barómetro do Standvirtual e da ACAP, entre janeiro e maio de 2021 registou-se "um crescimento de 19,8% face aos mesmos meses de 2020". Mas se a comparação for feita com os primeiros cinco meses de 2019, "verifica-se uma quebra de 36,3%".
Pormenores
77 mil veículos novos colocados em circulação nos primeiros cinco meses de 2021 (+19,8% do que no mesmo período de 2020, mas -36% face a 2019).
2019 como referência
Apesar de se ter verificado, em abril e maio de 2021, um forte crescimento do mercado de veículos novos, quando confrontado com os mesmos meses de 2020, o setor prefere comparar com 2019.
Preços a crescer
Ainda que de forma ligeira, o preço dos automóveis está a aumentar, devido à escassez de veículos abaixo de 10 mil e 20 mil euros e ao facto de a procura estar a crescer.
Quebra de 11%
O mercado de carros usados caiu 11% em 2020, face ao ano 2019, de acordo com o Standvirtual e a ACAP.