Portugal tem o quinto preço mais alto da Europa. Empresas pedem alívio na carga fiscal que encarece combustíveis e alertam que estamos a perder competitividade. Esta segunda-feira baixa 2 cêntimos.
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O preço da gasolina em Portugal aumentou 24,8% no último ano e é já o quinto mais elevado da Europa (há um ano, era o sexto). No mesmo período, os salários encolheram quase 7%, o que significa que o combustível subiu 20 vezes mais. Além das famílias serem penalizadas, as empresas perdem competitividade. "A curto/médio prazo, estes preços vão custar-nos uma diminuição nas exportações", alertou Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP). Esta segunda-feira, a gasolina baixa dois cêntimos.
A Holanda é o país da Europa com o litro de gasolina mais caro - 1,781 euros por litro na passada segunda-feira -, mas é pouco mais do que Portugal, onde o preço médio era de 1,605 euros. No país vizinho, a gasolina estava a custar 1,350 euros por litro, menos 25 cêntimos que podem significar muito, quando a remuneração bruta mensal média dos trabalhadores portugueses desceu quase 7% no último ano, de 1315 para 1227 euros (março de 2021).
"Para as empresas que ainda estão a tentar recuperar da pandemia, valia mais um alívio temporário da carga fiscal sobre os produtos petrolíferos do que o Plano de Recuperação e Resiliência", assegurou o presidente da AEP, recordando que "60% das nossas exportações são por via rodoviária".
As empresas "têm absorvido o aumento dos custos de transportes, mas não vão poder continuar a fazê-lo, por isso, brevemente, vamos ver subir o preço da generalidade dos produtos", assegurou. De acordo com a Entidade Nacional para o Setor Energético, em abril, o consumo de combustíveis aumentou 59% face ao homólogo de 2020, quando o país estava em confinamento. Contudo, ainda estamos 23,53% abaixo do consumo em abril de 2019. Como se explica que os atuais preços dos combustíveis sejam os mais elevados desde 2018?
Conflitos e clima
"O conflito em Israel tem influência", alertou António Comprido, presidente da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (Apetro). "Os mercados tendem a antecipar um agravamento, apostando no aumento de preço do crude", completou. Mas a matéria-prima vale apenas 25% do preço da gasolina.
A diferença face a Espanha continua a residir, principalmente, na carga fiscal que, em Portugal, representa cerca de 60% do custo final do litro de gasolina. "Quando sai da refinaria, o preço é semelhante ao de outros países", assegurou Comprido. "As diferenças explicam-se pela carga fiscal e a margem da distribuição, que acaba por ser maior em Portugal por ser um mercado pequeno e muito pulverizado por pequenos postos de abastecimento".
Se as empresas consideram que um alívio fiscal no preço dos combustíveis poderia impulsionar a economia pós-pandemia, o presidente da Apetro "duvida que tal venha a suceder, até porque poderia ser considerado um estímulo ao consumo numa altura em que se procura combater as alterações climáticas, penalizando os combustíveis fósseis".
Consumo e preços estão a crescer menos
A carga fiscal sobre o gasóleo é inferior (55% do preço final) à que incide sobre a gasolina (60%), em Portugal. O preço do gasóleo aumentou 23% no último ano, estando a custar 1,396 euros por litro. Já a gasolina subiu 24,8%. O desconfinamento levou a um aumento do consumo de gasóleo de 5% em abril face a março. Na gasolina, a subida foi de 15,6% em abril face ao mês anterior, três vezes mais do que no diesel.