Maior empregadora da região de Castelo Branco precisa de funcionários para dois projetos. Aluga autocarros para quem é da Covilhã e Fundão.
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A maior empregadora de Castelo Branco, a APTIV (antiga Delphi), que se dedica à produção de cabos elétricos para automóveis, está a enfrentar uma das maiores crises dos seus 37 anos de existência: a falta de mão de obra.
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A multinacional alemã recusa falar do assunto (a direção não responde a questões dos jornalistas), mas as reuniões com presidentes da Câmara do distrito de Castelo Branco e responsáveis do Instituto de Emprego e Formação Profissional decorrem a um ritmo quase semanal. Em causa está a necessidade de operários para o desenvolvimento de dois projetos de ensaios para a fabricação de cabos para os motores elétricos das marcas INEOS e a Maserati.
Francisco Matias, dirigente do Sindicato Nacional da Indústria e Energia e trabalhador naquela unidade há 22 anos, não se lembra de uma tamanha crise de falta de mão de obra na APTIV. "Estamos com 1300 operários, mas esta fábrica precisa de mais cerca de 300 para os novos projetos", explica o dirigente, que tem mantido reuniões com a Direção.
Salário-base de 700 euros
"As pessoas vêm às entrevistas, mas dão negas". E exemplifica: "Em julho, vieram 400 pessoas a entrevistas e só 13 aceitaram ficar". Os contratados auferem um salário-base de 700 euros. "Este ano, houve um aumento na ordem dos 5%, nunca aconteceu valor tão alto. É mais uma forma de atração, o que está a gerar algum descontentamento porque os que trabalham há mais anos recebem abaixo desse valor", adianta Francisco Matias, preocupado com "um virar de página que seria desastroso para a região" se a Administração resolver "desviar a laboração para países de mão-de-obra mais barata".
Sem soluções imediatas em Castelo Branco, a APTIV aluga autocarros para transportar gratuitamente trabalhadores que vêm da zona da Covilhã e do Fundão. E tem recorrido também a cidadãos do países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), muitos com formação superior.
Às 15.15 horas, à entrada de um três turnos da fábrica (que terminará às 00.30 horas), os autocarros deixam os trabalhadores à porta. Uma das funcionárias é Margarida Inácio, 20 anos, de Cortes do Meio, na Covilhã. "Se viéssemos com o nosso carro, claro que analisaria melhor, porque são 60 quilómetros de distância e isso tem custos".
David Morgado, que estava desempregado há seis meses e tem a mulher ainda nessa situação, diz que "muita gente não quer trabalho, não sabe trabalhar em equipa".
Na Covilhã e no Fundão, também existem empresários que querem empregar. A J3LP abriu portas em 2005 como uma filial no Fundão do grupo francês J3L. Tem 300 funcionários de 14 nacionalidades. A empresa opera no polimento de metais, um trabalho sobretudo manual. "Tive de recorrer a mão de obra estrangeira e os resultados são positivos ", considera Paulo Nobre, diretor-geral da J3LP.