Há 23 236 vagas de emprego que ninguém quer, o número mais alto desde 2017. Norte e Lisboa precisam de gente para a construção.
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Há cada vez mais ofertas de trabalho que se acumulam nos registos do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) por falta de candidatos. Em julho, havia 23 236 empregos disponíveis que ninguém quer e cerca de metade destes dizem respeito a apenas três setores: atividades imobiliárias e administrativas, alojamento e restauração, e construção.
O número de ofertas de emprego sem candidatos mais do que duplicou desde janeiro deste ano, passando de 10 735 para 23 236. Poder-se-ia pensar que o aumento é sazonal devido aos empregos de verão, mas a verdade é que em julho do ano passado as vagas eram apenas 12 705 e, no mesmo mês de 2019, antes da pandemia, situavam-se nos 19 294. É preciso recuar a 2017 para encontrar um julho com mais ofertas de emprego do que este ano. Em, 2017, havia 24 335.
A região de Lisboa e Vale do Tejo é a que acumula mais ofertas sem candidato. São 7434 vagas, contra as 5819 no Centro, 4824 no Norte, 3565 no Alentejo, 1026 no Algarve e 568 nas regiões autónomas.
A nível nacional, as atividades imobiliárias e administrativas são as que têm mais vagas disponíveis, seguidas do alojamento e restauração e da construção. No entanto, uma análise regional permite perceber que tanto em Lisboa e Vale do Tejo como no Norte a maior procura é por profissionais da construção. As atividades imobiliárias são as mais pretendidas no Centro e Alentejo, ao passo que no Algarve é o alojamento e restauração.
Curiosamente, em julho, havia mais de 5000 trabalhadores da construção desempregados no Norte e quase 3600 em Lisboa. Ou seja, há desempregados inscritos nas áreas a que as ofertas dizem respeito, mas este "casamento" não aconteceu, pese embora o sucesso dos programas que promovem o regresso ao mercado de trabalho.
João Cerejeira, professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e especialista em mercado laboral, aponta vários fatores para a subida do número de ofertas: "Por causa das medidas de apoio da pandemia, a exigência para a manutenção do subsídio de desemprego é menor, e em empregos em que os salários do mercado são muito próximos do valor do subsídio, aí há claramente um incentivo a não haver uma procura tão forte".
Menos imigrantes
Depois, as restrições à mobilidade internacional ocorridas em pandemia também foram decisivas para adensar o fenómeno, entende o professor de Economia. "Algumas das ofertas, nomeadamente na construção e restauração, eram ocupadas por imigrantes." João Cerejeira dá o exemplo do Brasil, cuja quarentena obrigatória à chegada a Portugal só foi suspensa na passada quarta-feira.
Por fim, em particular no setor da construção, a expansão a nível europeu que o setor está a enfrentar, associada ao facto de "haver muito menos apetência para estes setores de mão de obra mais intensiva e de salários mais baixos", gera a tempestade perfeita que culmina na falta de gente para trabalhar. A falta de apetência para o trabalho mais intensivo deriva do aumento da escolarização, quebra do abandono escolar e número recorde de jovens no Ensino Superior.
Ativar.pt atingiu o dobro da meta prevista para a inserção laboral
Entre março de 2020 e agosto de 2021, mais de 181 mil novos desempregados foram integrados nas medidas previstas pelo programa Ativar.pt, seja na parte da formação profissional ou na parte de emprego (estágios e incentivo). "Este dado supera a meta inicialmente estabelecida no quadro do programa Ativar.pt, que apontava para uma cobertura agregada de 90 mil pessoas em programas de emprego e formação", adianta fonte do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, ao JN.
Na modalidade de "incentivo", o Ativar.pt é uma ajuda financeira dada aos empregadores que celebrem contratos de trabalho por mais de 12 meses. Já os estágios são de nove meses e traduzem-se num apoio que vai até cerca de mil euros mensais para os contratados e até 95% dos custos unitários para as entidades que contratam. Em estágios e incentivo, o Ativar.pt colocou 34 mil pessoas.
Ao nível da taxa de cobertura das medidas de política ativa, a média da taxa em 2021 situa-se nos 22%, acima do objetivo definido no Programa de Estabilização Económica e Social (PEES). "Desde junho de 2020, altura em que o PEES foi aprovado, a taxa de cobertura nunca esteve abaixo de 16% e tem vindo a aumentar progressivamente, situando-se já nos 23,7% no final de agosto deste ano", revela o ministério.
A nível formativo, no final de agosto, 84% da meta de ter 55 mil pessoas com formação na área digital já estava cumprida e contabilizavam-se cerca de 105 mil formandos em áreas emergentes, como economia digital, energia e alterações climáticas ou setor social, desde o início de 2020.
Prolongamento
O Ativar.pt terminava em junho e foi prolongado até ao final do ano "devido às condições ainda incertas da economia e do mercado de trabalho", justificou o Governo. É gerido pelo IEFP.