Ao segundo dia, agricultura, panificação, têxtil e distribuição dizem que a greve dos motoristas não teve impacto na atividade. Mas avisam: se se prolongar além do final da semana, começará a ter consequências.
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Para já, a violação dos serviços mínimos levou à identificação de 14 motoristas, sujeitos à acusação do crime de desobediência. As comunicações foram feitas à GNR e PSP, cujas forças têm sido obrigadas a trabalhar mais do que 24 horas seguidas.
Na agricultura, a área mais crítica é a fruta, como o pêssego, ameixa, melão, melancia ou tomate de indústria. "Estamos no pico da colheita, são produtos que não podem aguentar no campo", diz Gonçalo Andrade, da Portugal Fresh. Até ao momento, não tem nota de problemas, até porque, antevendo a greve, as explorações prepararam-se - tal como a fileira do leite.
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"Está tudo tranquilo", diz Maria Cândida Marramaque, da Associação dos Laticínios. A maior preocupação é "transportar o leite da produção até à transformação no máximo em 48 horas e isso está assegurado". Mas não se pode prolongar indefinidamente, alerta.
É com o impacto no setor frutícola que Luís Mira, da Confederação da Agricultura, mais se preocupa, porque a perda da colheita significa a perda do rendimento de um ano inteiro. Antever a data a partir da qual haverá cortes nas prateleiras das lojas é difícil, mas arrisca uma estimativa grosseira: "Se durar até sexta-feira, podemos ter problemas complicados".
Ainda no alimentar, as padarias reforçaram os stocks e atestaram os depósitos, garante Luís Gonçalves, da Associação da Panificação. "Poderá haver falhas se a greve se prolongar, mas não faltará produto até ao final da semana", assegura.
Nos súper e hipermercados, o abastecimento de bens perecíveis está a ser diário, até porque estão abrangidos por serviços mínimos, adianta Gonçalo Lobo Xavier, da associação do setor. Porém, "se a greve se prolongar, é natural alguma perturbação", admite.
Por último, Paulo Vaz, da Associação Têxtil, adiantou que muitas fábricas fecharam para férias, em agosto, pelo que não se preveem consequências a breve trecho.
turnos de mais de 24 h
O Governo exigiu aos agentes da PSP e aos militares da GNR um "grande esforço", admitiu o ministro do Ambiente, Matos Fernandes. Hoje, prometeu, a prontidão das forças de segurança e armadas será menor e concentrada ao final da tarde, para colmatar falhas que venham a existir - até porque os serviços mínimos foram cumpridos, no global. As associações dos Guardas, dos Polícias e o Movimento Zero tinham denunciado turnos de mais de 24 horas, incluindo oito horas a manobrar camiões-cisterna.
Ao final do primeiro dia de requisição civil, Matos Fernandes deu conta de 14 motoristas a notificar pelo crime de desobediência, punido com pena de um a dois anos de prisão. Os 11 motoristas já notificados invocaram estarem de baixa médica.
Sindicato ironiza com greve durante dez anos
"Os trabalhadores estão em greve, estão a trabalhar e estão a receber. A greve pode durar dez anos", ironizou Pardal Henriques, referindo-se ao facto de a requisição civil implicar que os motoristas se apresentam ao serviço e são pagos.