O projeto-piloto da semana de quatro dias de trabalho vai avançar oficialmente em 2023, sendo que os responsáveis de 26 empresas privadas já frequentaram as sessões de esclarecimento do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), realizadas no início de dezembro. A iniciativa não implica a perda de salário para os trabalhadores e é reversível para as empresas, lembra o coordenador Pedro Gomes.
Corpo do artigo
"Se os empresários considerarem que a iniciativa não traz benefícios em termos de competitividade podem voltar atrás", explica Pedro Gomes, coordenador da semana de quatro dias de trabalho em Portugal, o projeto-piloto que vai efetivamente para o terreno no próximo ano. Por agora, estão a decorrer as sessões de esclarecimento para as empresas interessadas junto do IEFP, a entidade que terá a responsabilidade de gerir e implementar o novo modelo de trabalho. É também a este instituto que caberá o o financiamento: até um montante máximo de 350 mil euros, lê-se na portaria do Governo publicada esta terça-feira.
O economista explica que o financiamento do IEFP servirá para pagar "a formação e os workshops" dados aos empresários, pelo que não existirá qualquer benefício monetário às organizações que decidam avançar com a semana de quatro dias de trabalho. Uma realidade diferente da que acontece em Espanha, onde será atribuído um subsídio de 150 mil euros a cada empresa. No total, o Orçamento do Estado espanhol dedica dez milhões de euros à iniciativa. O modelo português "torna o processo mais ágil", defende Pedro Gomes. Caso contrário, teria de haver sanções para as empresas que não estivessem a cumprir os requisitos.
15241999
As 26 empresas, que frequentaram as duas sessões de esclarecimento do IEFP no início de dezembro, são o barómetro do interesse para implementar a semana de quatro dias de trabalho em Portugal. "Há variedade setorial ", confirma o coordenador da iniciativa. O professor de Birkbeck, na Universidade de Londres, adianta que há fábricas, tecnológicas e consultoras interessadas. Pelo menos duas empresas têm mais de mil trabalhadores, uma tem entre 100 e 500 funcionários e 12 têm entre 10 e 49. "Não há nenhum vínculo, é um convite à reflexão, onde se fala das possíveis vantagens", esclarece o especialista.
No final de janeiro e durante o mês de fevereiro, as empresas terão de informar se querem experimentar a semana de quatro dias de trabalho. Entre março e maio haverá um "trabalho preparatório" para definir como será organizado o trabalho. "Esta é a fase mais difícil", em que possivelmente haverá desistências, admite Pedro Gomes. A Simoldes, que se dedica à fabricação de moldes de injeção para a indústria dos plásticos, já mostrou publicamente o interesse em aderir à iniciativa. O grupo está sediado em Oliveira de Azeméis.
Diminuir stress dos funcionários
A coordenação do projeto-piloto percebeu, pelas primeiras recolhas junto dos empresários interessados, que a maioria tem vontade de implementar a semana de quatro dias para "diminuir o stress dos trabalhadores, facilitar a retenção de talento e o recrutamento de pessoas". Há ainda responsáveis que querem compensar a falta de aumentos salariais com a diminuição da carga horária semanal ou pretendem fomentar a criatividade nos trabalhadores.
14899652
O IEFP tem disponível um formulário no seu site para que os interessados se possam inscrever nas sessões de esclarecimento. As empresas que vierem a efetivar a implementação da semana de quatro dias de trabalho serão avaliadas antes, durante e após o projeto-piloto. "O processo de adesão do setor público, que ainda não está fechado, vai acontecer em paralelo" e será distinto do que está a ocorrer para os privados, explica o economista ao JN. "Haverá apoio individual às empresas e reuniões especializadas entre indústrias, mas não será a um nível tão concreto como se fosse consultoria", conclui Pedro Gomes.