Alojamentos que recebem cães, gatos ou animais exóticos sem mãos a medir: encontrar vaga é quase impossível. Há novas empresas e serviços a surgir no mercado.
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Os hotéis e quintas onde se podem deixar os animais de companhia durante as férias estão lotados este verão e a procura é tal que o número de empresas está a aumentar. Alguns, contudo, não dispensam a mascote nas férias e optam por alojamentos que aceitem animais. Há até quem os traga ou leve de férias para o estrangeiro, como revela a TAP.
Na Maia, o Centro de Bem Estar Animal está "lotado" desde a segunda quinzena de julho até à primeira semana de setembro, conta Andreia Gloystein. Há quem assegure a vaga numa das 23 boxes de um ano para o outro e alguns clientes ligam em janeiro, mas "a maioria telefona com poucas semanas ou dias de antecedência", diz.
Na Matilha do Gato, em Braga, a capacidade está a 90%, conta Karina Cardoso. O hotel tem procura todo o ano, ainda que com menos afluência, e, no início de julho, começa a "avalanche de telefonemas" à procura de lugar onde deixar o animal.
Encontrar vaga no Valverde hotel para animais, em Loures, neste final de julho e no mês de agosto, é quase missão impossível. "Só se houver alguma desistência ou se for uns dias que ficaram por preencher, porque estamos quase lotados", explica um funcionário. No Natal e na passagem de ano, este alojamento também esteve na sua capacidade máxima. Na Páscoa e no Carnaval houve "muita procura".
No Hotel Canino Monte da Benviuda, em Mértola, a proprietária, Teresa Silva, revela que está a 95% da capacidade, mas espera mais reservas e conta ficar com o espaço lotado. As 24 boxes são quase todas ocupadas por cães e os pedidos para gatos são "residuais".
A plataforma de contratação de serviços Fixando revela que recebeu, no primeiro semestre deste ano, 2344 pedidos de alojamento animal, mais 80% do que no mesmo período de 2018. A maioria dos pedidos chega, por norma, nos meses de junho, julho e agosto. A plataforma já somou mais 96 empresas do setor às 232 registadas em 2018.
Donos pedem vídeos
O Pets Inn, em Loulé, abriu em outubro passado, depois de Fábio Ferreira, sócio-gerente, perceber a "necessidade de mercado". O negócio está a correr bem. "Agosto está praticamente lotado", diz. "Achava que depois do Natal e até à Páscoa ia haver uma quebra na procura, mas tem sido sempre a subir". Para além de cães e gatos, recebem animais exóticos. Por ali já passaram papagaios, peixes e até um dragão barbudo, uma espécie de lagarto. A maioria dos clientes são portugueses ou estrangeiros a residir em Portugal, que se deslocam de todo o país. Muitos vão passar férias ao Algarve e deixam lá as mascotes.
É cada vez mais frequente os donos pedirem fotos e vídeos ou telefonarem para se assegurarem do bem-estar dos animais, contaram os responsáveis dos hotéis ao JN. É uma das novas tendências do mercado dos animais de estimação. Mas não é a única: a Quinta do Cão Nosso já dispensa as tradicionais boxes.
Ana Beja tem 26 anos e colabora na Quinta do Cão Nosso, na zona de Belas, Sintra, desde que foi criada, há ano e meio. O espaço funciona diariamente como ATL para cães, mas também faz acolhimento quando os donos vão de férias e com um conceito inovador: em vez de ficarem em boxes, vão dormir a casa de colaboradores que os acolhem a troco de 25 euros/noite, como é o caso de Ana. Se os donos preferirem, os cães podem também ficar em casa, sendo trazidos para a quinta durante o dia. Quando ficam em casa de Ana, é certo que os donos não perdem o contacto com o animal: a jovem envia-lhes fotografias e vídeos.
Criada por Luísa e Pedro Lopes, a quinta oferece serviços que podem ser estranhos em Portugal, mas no Reino Unido já são tradição: passeios de cães, táxi para os levar onde for necessário (seja ao aeroporto ou ao veterinário) e petsitting.
Pedro, 32 anos, acredita que "os hotéis com boxes vão acabar dentro de 20 anos", uma vez que as pessoas cada vez mais "tratam os cães quase como filhos". A quinta tem duas carrinhas para transporte que já chegaram a fazer viagens ao estrangeiro: em novembro do ano passado, levaram um cão para Sevilha e, passado um mês, outro para Paris. As carrinhas servem também para ir buscar cães de pessoas que chegam ao aeroporto, uma vez que a maioria dos táxis não aceita transportar animais. O serviço tem uma taxa inicial de 4,5 euros (se for dentro do município de Lisboa) a que acrescem mais cinco euros se for para fora. Para além da taxa, existe um valor de 0,75 euros por quilómetro e de quinze euros por hora.
Os clientes chegam a deixar as chaves de casa na quinta para que os colaboradores façam o serviço de housesitting, que inclui tarefas básicas como regar plantas, arejar a casa ou mudar a posição dos estores.
Por enquanto, ainda só existe uma pequena banheira para os animais se refrescarem. Contudo, os dois tanques que existem nesta quinta do século XVII serão transformados em piscinas.
Durante o dia, os cães tomam banho, socializam e estimulam o olfato nos quase quatro hectares de espaço livre que têm ao dispor. "A primeira forma de os cães absorverem informação é a partir da visão; e o olfato é o sentido mais apurado que têm, por isso deve ser exercitado", diz Pedro.
Zigga, uma das cadelas que frequentam a creche canina, está constantemente à procura de lagartixas para caçar e, por vezes, alguns cães também tentam caçar coelhos e lebres.
A quinta pode receber até 30 cães em simultâneo, de todas as raças e portes, sendo que existe uma avaliação comportamental no início, que consiste numa atenção da sua linguagem corporal e na forma como os outros cães reagem. A creche é o serviço mais procurado, seguido de petsitting e dog táxi.
A procura tem aumentado, sendo que é no verão que há mais afluência: já não há vagas até meados de setembro. Durante esta época, é possível deixar o cão na quinta a partir de 25 euros.
ESTRANGEIRO
40 mil em 2018
A TAP transportou, no primeiro semestre deste ano, mais de 17 mil animais. No ano passado, foram mais de 40 mil, diz a companhia, realçando que os períodos de férias (janeiro, julho, agosto e dezembro) são os que registam mais transportes, a maioria cães e gatos. Até oito quilos, vão ao lado dos passageiro, os outros vão no porão.
Na CP pode ser grátis
A CP não avança números, mas realça que nos comboios Celta, até 10 quilos e em recipiente próprio, é gratuito. No Sud Expresso/Lusitânia Comboio Hotel, paga-se 30,5 euros e só podem ir em compartimentos em regime familiar. Os cães de invisuais têm regras próprias.