Estaleiros e empresas especializadas do setor querem inovar e apostar na sustentabilidade, mas nem todos têm facilidades.
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A tecnologia e a sustentabilidade ambiental são preocupações cada vez mais importantes em qualquer setor de atividade. A indústria naval não foge à regra e quer manter-se à tona. Já se usam novos métodos na construção e na reparação naval, desde as tintas mais ecológicas para a pintura ao tratamento dos barcos (ler texto ao lado). Mas a falta de investimento e de infraestruturas para fazer a transição ecológica e digital é condicionante, mesmo que os clientes estejam ávidos por novidades.
Em Portugal, as empresas do setor estão a atuar a diferentes velocidades. Veja-se o exemplo dos Estaleiros Navais de Peniche (ENP). Entre 2012 e 2016, tiveram uma parceria com a empresa finlandesa AW Energy, num projeto que consiste na produção de energia elétrica a partir das ondas. "A nosso cargo ficou a construção global da estrutura, a montagem e a colocação na água", explica Álvaro Oliveira, diretor-geral dos ENP.
Quando os estaleiros foram adquiridos por um fundo de reestruturação, a parceria terminou. "Estamos a retomar a participação em projetos internacionais", aponta o responsável, defendendo que sem autonomia financeira é difícil investir na inovação.
Por outro lado, o grupo português ETE, que engloba diferentes áreas de negócio, sendo um deles o da engenharia e da reparação naval, tem um projeto em andamento. Nos estaleiros da Navaltagus, no Seixal, está a ser desenvolvido o primeiro ferryboat elétrico da Península Ibérica, que seguirá para Aveiro a partir de outubro. O investimento é de cerca de seis milhões de euros.
"Vai permitir zero emissões de CO2, poupando a emissão de 300 toneladas, que é o que produz o atual ferry. Vai reduzir o consumo energético em cerca de 30% e terá baixos níveis de ruído", refere Andreia Ventura, administradora do grupo ETE, que acrescenta que os clientes estão mais sensibilizados para a sustentabilidade ecológica.
Procurar ajuda lá fora
Os Estaleiros Navais do Guadiana (Nautiber) têm noção do que o mercado quer e estão a tentar manter-se a par das tendências, afirma o gerente Rui Roque. Um dos objetivos é a construção de uma embarcação elétrica para 50 passageiros.
Falta ter uma "solução integrada" para o desenvolvimento dos materiais, como as baterias e os motores. A falta de resposta levou-os a procurar assessoria técnica na Noruega. O responsável diz que o estado da arte não está suficientemente desenvolvido em Portugal.
Jorge Martins, CEO da Neptune Devotion, dedicada a barcos de luxo, partilha da mesma opinião: "Não temos estruturas suficientes para que um barco elétrico possa estar a ser alimentado numa marina" e aponta o atraso na modernização.
A par disso, há "falta de oportunidades de trabalho" dentro de portas, contesta Rui Roque. "Nos outros países consultam o setor para saber como podem desenvolver o produto e fazer a indústria evoluir", destacando a falta de diálogo do Estado.