A semana que passou foi dura para a Europa e o dia de ontem foi, verdadeiramente, uma sexta-feira negra para a moeda única. O euro desvalorizou para níveis que já não se viam desde 2008 (1,2428 dólares) e espera-se que continue a cair, enquanto estiver enfraquecido pelas pesadas dívidas públicas de alguns países.
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As medidas de austeridade anunciadas durante a semana também não convenceram os investidores, que procuraram outros valores mais seguros. As bolsas encerraram no vermelho (Madrid caiu 6,64% e Lisboa 4,14%) com especial penalização das cotações dos bancos europeus e o ouro tornou a bater recordes enquanto valor de refúgio. Os analistas dizem que as medidas de contenção da despesa pública e o aumento dos impostos vão fazer retrair o consumo e atrasar a recuperação económica da Europa, retardando o momento em que as taxas de juro poderão tornar a subir. No pior dos cenários, a Europa ficará à mercê das economias mais fortalecidas, a inflação disparará.
De Espanha, surgiram rumores, veiculados pelo "El Pais", de que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, teria confiado ao primeiro-ministro Zapatero que sairia da moeda única se a Alemanha não aceitasse ajudar a Grécia. Desmentida tal afirmação, a Europa permanece, contudo, dividida em desconfiança dos planos de emergência de cada um dos países. Será esta, porventura, a prova de fogo da união dos Estados que, um dia, conceberam a força comum nascida da conjugação de políticas. Todavia, o que estará em causa, independentemente de planos de salvação, será sempre, em última análise, a vontade de os investidores confiarem na UE. O Governo alemão considerou ontem que as propostas apresentadas na quarta-feira pela Comissão Europeia (CE) para evitar futuras crises como na Grécia "vão no bom sentido", disse em Berlim o porta-voz do ministério das finanças, Michael Offer.
A Comissão Europeia propôs, concretamente, um reforço do Pacto de Estabilidade e Crescimento, nomeadamente através da apresentação prévia dos orçamentos de Estados dos países membros a Bruxelas. Além disso, recomendou uma maior atenção ao volume das dívidas públicas 60% do PIB é o limite oficial), e não apenas ao critério dos 3% do PIB no défice.