Valor desceu em quase todo o país devido à falta de encomendas. Minho é exceção.
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As restrições impostas pela pandemia estão a condicionar a época da lampreia, baixando o preço a pescadores e deixando restaurantes em takeaway sem encomendas. O Minho é exceção.
Em Aveiro, os pescadores lamentam que o preço de venda em lota tenha caído para cerca de metade, apesar de haver mais lampreia (ler reportagem ao lado).
No Tejo, também não parece faltar produto. Em dois dias, os dois barcos de Dário Ribeiro apanharam 31 lampreias naquele rio. Vende para a população da zona ribeirinha, mas em menor quantidade. Este ano, em que "há lampreia" e o rio está "mais limpo", diz, "os restaurantes não precisariam de ir comprar a França".
Francisco Pinto, pescador que tem um restaurante na barragem de Belver, em Santarém, tem recebido algumas encomendas para takeaway, mas é "muito pouco". Os clientes de Lisboa e de outras paragens "agora não aparecem". Também apanha para vender a particulares da zona, "gente que sempre viveu e comeu do rio".
Ricardo Vermelho, pescador com restaurante em Mação, explica que o valor de venda tem andado a descer e ronda os "20 a 25 euros" a unidade. Para isso contribui o facto de haver muitos restaurantes fechados e menos particulares a comprar, já que "não sabem arranjar o peixe em casa".
Em Penacova, oito restaurantes aderiram ao takeaway, mas o escoamento está longe do que seria com a venda presencial.
Procura a norte
O rio Minho serve de contraponto. Este ano tem pouca lampreia, mas a procura está a ser elevada. Segundo o presidente da Associação de Pesca Profissional do Rio Minho e Mar, Augusto Porto, os pescadores que tinham os barcos parados, devido ao fecho da restauração, voltaram ao rio. A lampreia está a ser vendida a "15 e 20 euros" em Caminha e "a 25 e 28 euros" em Viana do Castelo. "A procura está a ser muita e de todo o lado. Pela primeira vez vendi lampreias para Matosinhos", diz Augusto Porto.
Reportagem
Pescadores procuram outras artes
Foram três dias para apanhar sete lampreias nas águas da ria de Aveiro, mas o esforço do pescador Humberto Neto, da Gafanha da Nazaré, não compensou. Contas feitas, vai receber "cerca de 100 euros" pelo peixe vendido na lota, mas só em combustível para a embarcação gastou "60 euros".
Num ano em que até "há mais lampreia", as restrições impostas para tentar travar a pandemia de covid-19 estão a dificultar a vida aos pescadores, diz Humberto Neto, explicando que, com os restaurantes fechados ou a servirem apenas em takeaway e muitos festivais cancelados, "a lampreia não rende dinheiro".
O preço de venda em lota caiu para sensivelmente metade. "Em anos anteriores andava pelos 12 a 14 euros o quilo", mas este ano "ronda os sete euros". A situação repete-se com o sável. "Nos outros anos, dava uns 10 euros o quilo. Agora anda pelos dois ou três, no máximo", continua.
O drama do pescador Maurício Nunes, da mesma Gafanha, é semelhante. "Vamos conseguindo vender, mas o preço é baixo". Por isso, ambos procuram escoar diretamente a peixeiros, negociando o pescado a melhor preço do que na lota. E não largam outras artes, para aumentarem os rendimentos. Humberto vai à safra do choco e Maurício não deixa de apanhar berbigão.
A pesca continua até final de abril, com um defeso de 10 dias pelo meio. Por isso, os pescadores têm esperança que os restaurantes reabram, fazendo aumentar a procura e os preços. Mas o principal festival da lampreia da região, que decorria em março, em Sever do Vouga, foi cancelado.
O festival atraía àquele concelho "muitos visitantes de fora do concelho e de outros distritos, que faziam marcações nos restaurantes e vinham em grupos grande", explica o presidente da Câmara, António Coutinho. Mas, devido à pandemia, "não vai acontecer". A Autarquia refere que ainda sondou vários restaurantes, mas não se mostraram recetivos ao takeaway, sobretudo numa altura em que não se pode transitar entre concelhos aos fins de semana, considerando que não iria "valorizar" o produto.
Terminar em casa
Penacova
Oito restaurantes estão a vender em takeaway em Penacova. "As pessoas recebem um kit que inclui as doses de lampreia pré-confecionadas, um saco com arroz cru na medida das doses e uma explicação de como fazer em casa", explica o presidente da Câmara, Humberto Oliveira.
Penafiel
Em Entre-os Rios, Penafiel, Luís Semide, vendedor há mais de 20 anos, contou que tem vendido "pouco para os restaurantes que trabalham com takeaway", mas há "maior procura dos particulares, que se aventuram na cozinha". Os preços são idênticos aos dos anos anteriores, 30 a 35 euros cada.