No segundo ano de pandemia, em 2021, os leilões internacionais de arte tiveram um dos melhores anos de sempre, com 17,1 mil milhões de dólares (quase 16 mil milhões de euros) faturados (+60% que em 2020 e +28% que em 2019).
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O vigor do mercado tem tudo a ver com o número de novos milionários e o excesso de liquidez em novos mercados, como as criptomoedas. Em Portugal, a realidade anda "distante das especulações mundiais", mas uma das maiores leiloeiras prepara-se para aceitar pagamentos em criptomoedas para "chegar aos novos milionários".
O ano que passou foi um dos melhores de sempre em valor de peças de arte leiloadas nas principais organizadoras de hastas do Mundo, revela a consultora Art Price. Um total de 660 mil peças foram vendidas por quase 16 mil milhões de euros, para os quais contribuíram, pela primeira vez, 232,43 milhões de dólares em NFT - a nova "arte digital" que anima criptomilionários e outros colecionadores.
O número de artigos cujo valor de venda ultrapassou um milhão de dólares (1734) aumentou 44% face a 2020 e voltaram ao mercado peças de belas-artes que valem muitos milhões, como "Femme assise près d'une fenêtre (Marie-Thérèse)", de Pablo Picasso, arrematada por 103,4 milhões de dólares (96,4 milhões de euros), em Nova Iorque.
Refúgio na incerteza
As cinco maiores leiloeiras mundiais faturaram, no ano passado, entre 4,4 mil milhões de dólares (Sotheby's) e 678 milhões de dólares (China Guardian). Na Europa, a França é o maior mercado, pouco acima de mil milhões de dólares, seguindo-se a Alemanha (357 milhões de dólares) e Itália (212 milhões de dólares). Em Portugal, a Associação Portuguesa de Leiloeiras de Arte (APLA) estima que ronde "40 a 50 milhões de euros anuais".
"Andamos muito longe dos recordes internacionais", reconheceu o presidente da APLA. "Creio que nunca tivemos uma peça a vender acima de um milhão de euros e a peça mais cara, vendida pela Cabral Moncada, há uns anos, custou 640 mil euros", acrescentou Sebastião Pinto Ribeiro, que é também diretor financeiro da Palácio Correio Velho (PCV).
Naquela que é uma das principais leiloeiras portuguesas, revelou, "os leilões estão a correr bem, porque a arte sempre foi um investimento de refúgio em tempo de crise, inflação ou guerra". Sebastião Pinto Ribeiro considera que "os recordes das maiores leiloeiras do Mundo estão relacionados com a pressão de faturação que as leva a ir atrás do dinheiro, e os novos milionários estão nas criptomoedas".
Por isso, embora "o mercado dos NFT ainda não esteja maduro o suficiente para as leiloeiras portuguesas", as criptomoedas são cada vez mais urgentes e a PCV está a "preparar-se para aceitá-las, primeiro numa fase de leilões físicos, porque isso vai trazer novos clientes e numa classe de juventude que não tínhamos".
Hastas animadas
Pedro Maria Alvim, sócio-gerente da Cabral Moncada, revela que a peça de porcelana chinesa que detém o recorde das mais valiosas foi arrematada em 2016. "Não é comum termos peças a chegar a estes valores", explicou, admitindo que os leilões online que a internet proporciona "trouxeram clientes com mais poder de compra". "O mercado nacional funciona sem extravagâncias, não oscila consoante as crises ou as guerras como acontece lá fora", assegurou.
Na Veritas Art, que vendeu a segunda peça mais cara do top 10 português, o pós-confinamento tem correspondido a "um nível de participação muito intenso" e a atual conjuntura leva os leiloeiros a esperar um aumento do volume de negócios. "É expectável que assim seja, pois são momentos muito propensos à diversificação na aplicação de capital", confirmou fonte da empresa.