É comum que um quadro de Picasso, de Botticelli ou do mestre Van Gogh possa atingir muitos milhões de dólares em leilões internacionais. Mas, no ano passado, entrou para o top 10 um tal de "Beeple", nascido em 1981, autor de "Everydays: the first 5000 days". Uma colagem digital com cinco mil imagens da vida de um vulgar designer gráfico norte-americano foi leiloada pela Christie"s nova-iorquina por 69,346 milhões de dólares (65 milhões de euros).
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O mercado de NFT ("non fungible token" ou ativo não fungível) negociado em plataformas digitais inclui peças de arte digital ainda mais caras. O "The merge" foi vendido, em fevereiro deste ano, por 91,8 milhões de dólares (cerca de 85,6 milhões de euros) a um total de 28 893 colecionadores. A imagem digital de um ponto branco aumenta à medida que mais investidores a adquirem e pensa-se que, um dia, consistirá apenas num quadrado branco. O interesse na participação estimula a entrada de mais investidores, que impulsionam o valor da mesma.
Milionários das cripto
Qual será a lógica de comprar uma imagem digital que nem sempre é particularmente bela, quanto mais colecionar uma espécie de cromos que, de um dia para o outro, valem milhões? "O lado físico é um defeito, não é uma qualidade", simplificou Tyler Winklevoss, um dos maiores colecionadores de NFT e proprietário da Nifty Gateway, uma plataforma de transação de NFT. Equivale a dizer que um quadro não passa de tela e madeira coberta de tintas, para quem não apreciar a pintura. Tyler e o irmão gémeo Cameron valem 10 mil milhões de dólares graças aos investimentos em criptoativos.
Os analistas explicam que a maioria dos projetos começam com a criação de comunidades nas redes sociais, que depois abrem a possibilidade de comprar os referidos "tokens". Sendo peças digitais ancoradas em tecnologia "block chain", não podem ser reproduzidas ou roubadas e ainda trazem o bónus, nalguns casos, de mudar conforme o autor decida. "Clock" é o nome de um NFT lançado para angariar fundos para a defesa de Julian Assange (e é um dos mais valiosos, a valer mais de 56 milhões de dólares, divididos por mais de 10 mil pessoas) que apresenta apenas um relógio com o número de dias desde que o ativista foi preso.
É como o selinho que lhe colam no peito nos peditórios por uma causa. Ou um cromo raro do álbum de 1980 que poucos conseguiram. Pode representar uma causa ou uma moda. Mas é digital, só pode ser pago em criptomoedas e ninguém sabe se vai valorizar-se na medida da moeda associada ou se não vai valer mais do que lixo. Uma espécie de raspadinha virtual.