Além de atingir a neutralidade carbónica até 2035, o maior porto do Noroeste peninsular quer liderar numa nova logística verde.
Corpo do artigo
O Porto de Leixões está a investir 700 milhões de euros para se preparar para uma nova ordem logística mundial. A pandemia e a guerra na Ucrânia trouxeram oportunidades ao maior porto do Noroeste peninsular, que está na "primeira liga dos portos mais eficientes e previsíveis da Europa". Nuno Araújo, presidente da Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL) explica como a ferrovia (ler ao lado), as energias renováveis e a digitalização vão permitir atingir a neutralidade carbónica até 2035 e até produzir e comercializar hidrogénio.
A pandemia e a guerra alteraram as cadeias logísticas mundiais, onde dominavam os portos de maior dimensão, como Roterdão (Holanda) ou Algeciras (Espanha), trazendo oportunidades a Leixões, onde "os navios não têm de esperar dias a fio para descarregar".
"A guerra trouxe novas buscas por mercados abastecedores de produtos como os cereais, nomeadamente no Mercosul, onde temos relações privilegiadas e que nos permite posicionar como fornecedores da Europa", acrescentou Araújo.
Leixões tem ainda ganho clientes pela eficiência. "Há cada vez mais empresas espanholas que preferem movimentar carga por Leixões devido à rapidez dos procedimentos", acrescentou.
A digitalização é o segredo. A integração das diversas entidades na Janela Única Logística "facilita as operações, poupa tempo e dinheiro em burocracia", defende Nuno Araújo. Futuramente, os dados recolhidos serão tratados por um "data center" que, além de gerir a informação do porto, pode fornecer e recolher dados necessários para a operação de veículos autónomos, drones de medição de qualidade do ar, robôs marinhos e outras inovações que o futuro guarda.
De poluidor a verde
Hoje, apenas 24% das emissões do porto são responsabilidade da infraestrutura. Resta atenuar ou eliminar as dos navios. "À semelhança do que fizemos no Douro, vamos eletrificar Leixões", explicou o administrador. E a energia será renovável, com equipamentos capazes de extrair energia das ondas nos molhes do Douro, nos aerogeradores previstos para Leixões, complementados com painéis solares, ou ter como origem o hidrogénio.
"Temos uma parceria com a Efacec para produzir e comercializar hidrogénio em Leixões. Vamos passar de grande consumidor a produtor de energia", prevê Nuno Araújo.
O porto vai também fazer parte da inovação no mar, ao receber dois dos sete polos de inovação a financiar pelo Programa de Recuperação e Resiliência. O Hub Azul representa para o Porto de Leixões "uma oportunidade de parceria com as instituições científicas e a comunidade local". A possibilidade de nesse hub serem desenvolvidos projetos de investigação relacionados com a biodiversidade "é de todo o interesse de Leixões, que até pode aproveitar conhecimento sobre algas que podem ajudar a combater a poluição ou a conter derrames no porto".
1500 camiões por dia em Leixões
O Porto de Leixões recebe, diariamente, 1500 camiões altamente poluentes. Por questões administrativas, os que pretendem usar a ferrovia ao lado do porto "têm de percorrer 18 quilómetros para sair de um terminal e entrar no outro". A solução será integrar o terminal ferroviário da Infraestruturas de Portugal.
Os portos são a entrada para o mar. Temos de dar acesso à ciência porque vamos beneficiar
Nuno Araújo, Presidente Administração Portos do Douro e Leixões
Primeiro porto seco do país fica na Guarda
Leixões é, desde há poucos meses, o primeiro porto nacional a ter um porto seco, a mais de 200 km do mar. É na plataforma logística da Guarda que são recebidas mercadorias de ou para Leixões, por via terrestre ou ferroviária, e tratadas as devidas burocracias. Dali, seguem para o Porto de Leixões ou para Madrid ou o resto da Europa, com "soluções logísticas integradas que criam um corredor Leixões-Guarda-Salamanca". Além de poupar dinheiro às exportadoras, o porto seco permite ir buscar clientes às empresas espanholas que podem passar a exportar via Leixões.
"Queremos passar dos atuais 8% de carga a sair por ferrovia para 20% nos próximos dez anos. Não podemos continuar a ter 1500 camiões por dia a circular no porto", justificou o presidente da APDL.