Projetos com recurso à tecnologia, engenharia e robótica prometem exploração sustentável.
Corpo do artigo
Com rumo ao fundo dos oceanos, inicia-se uma nova Era dos Descobrimentos. Para Portugal, a missão será particularmente complexa. Com a proposta para a extensão da plataforma continental, o país prepara-se para tutelar quase quatro milhões de quilómetros quadrados de mar, o que se traduzirá numa área de oceano 40 vezes superior à do território. E está praticamente tudo por conhecer. Por isso mesmo, engenheiros, investigadores e cientistas portugueses estão a desenvolver projetos para desbravar e explorar o Atlântico de forma sustentável.
https://d23t0mtz3kds72.cloudfront.net/2022/05/30mai2022_cesarcadriaanc_orcabarcoce_20220530160250/mp4/30mai2022_cesarcadriaanc_orcabarcoce_20220530160250.mp4
No CEiiA, no Centro de Robótica e Sistemas Autónomos do INESC TEC e no Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) não faltam soluções já testadas e com provas dadas da sua eficácia. Há robôs, câmaras hiperbáricas, sensores e veículos autónomos para tudo: cartografam o fundo do mar, medem correntes, níveis de salinidade, oxigénio, temperatura, recolhem animais marinhos para estudo das espécies e há até "GoPro"s" que observam o seu comportamento.
Máquinas autónomas
A principal vantagem das máquinas na exploração do fundo dos oceanos, em particular dos robôs ou veículos autónomos, além de permitirem aos investigadores uma recolha de dados muito vasta e em simultâneo, é o facto de conseguirem chegar onde os humanos não podem ou onde é perigoso.
"Ou seja, o robô vai onde não queremos que os humanos vão, porque podem expor-se a perigos, por exemplo. Além disso, [as máquinas] não se cansam. Podem estar 24 sob 24 horas a trabalhar. Permite-nos uma maior densidade de dados e ir a sítios onde os humanos não conseguem ir: muito fundo, muito longe e a temperaturas extremas", esclareceu Nuno Cruz, coordenador do Centro de Robótica e Sistemas Autónomos do INESC TEC e professor da FEUP.
Também o CEiiA criou um veículo autónomo (ler texto abaixo) que pudesse substituir uma embarcação tripulada. E no Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática da FEUP já há uma série de máquinas que conseguem operar entre si sem precisarem de qualquer intervenção humana.
Fundos europeus
Todos estes projetos foram desenvolvidos com recurso a financiamentos e fundos europeus, não sendo essa, portanto, uma queixa dos investigadores.
Certo é que é preciso encontrar outras estratégias, também através da tecnologia, robótica e engenharia, para explorar o mar, considera Eduardo Silva, do INESC TEC/ISEP.
Isto porque, "Portugal está a reclamar uma área de mar muito grande: quatro milhões de quilómetros quadrados".
CEiiA cria veículo autónomo para explorar oceanos
Chama-se ORCA, mas é um barco autónomo. Foi desenvolvido nos últimos anos no CEiiA, em Matosinhos, e o que promete vai muito além da cartografia. "Pode ser utilizado, por exemplo, para a monitorização de alterações climáticas associadas à acidificação dos oceanos, à temperatura das águas do mar e também para missões de defesa ou segurança", explicou Tiago Rebelo, diretor da área de Oceano e Espaço do CEiiA.
A associação visual de qualquer cidadão comum à aparência deste veículo é a de um barco telecomandado. E qualquer joystick serve. A única condição é estar ligado à mesma rede.
A par do prazer de ver um veículo deste género no mar a responder, em tempo real, às ordens que lhe são dadas em terra, e além dos evidentes contributos para o conhecimento dos oceanos, o ORCA pode servir de meio de vigilância, prevenir a exploração ilegal de ambientes aquáticos e inspecionar estruturas submarinas como tubulações de gás e barragens.
Vida marinha
A sua capacidade de adaptação deve-se aos 100 quilos de sensores a mais que consegue suportar. Por enquanto, foi desenhado para zonas costeiras, portuárias e protegidas, mas o objetivo é transformá-lo numa embarcação maior que possa ser utilizada em mar aberto. "Só depois de explorarmos [o oceano] é que podemos entender como é que o temos de proteger", observa Tiago Rebelo. Parte dessa exploração está já a ser feita, no que toca à vida marinha, através de vários produtos também desenvolvidos no CEiiA. São uma espécie de "GoPro", que a BBC utiliza, para captar imagens de animais como tubarões, baleias e mantas.