Felícia Teixeira é artista plástica e esteve os últimos sete anos em regime de recibos verdes. Mal a pandemia começou, foi dispensada.
Corpo do artigo
13184889
Se há realidade que Felícia Teixeira, de 32 anos, conhece bem é a incerteza do trabalho precário. Aliás, não conhece outra. Foi no ano em que a troika entrou em Portugal, em 2011, que se licenciou em Artes Plásticas - Multimédia, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Com o país fragilizado pela crise e sabendo, de antemão, que havia poucas ofertas na sua área, prosseguiu os estudos, apesar de começar a fazer trabalhos pontuais. Antes de terminar o mestrado, em 2014, tinha finalmente encontrado um trabalho fixo. A recibos verdes, claro.
E continuou empregada - sempre sem um contrato de trabalho - até este ano, quando foi dispensada das funções que exercia, na Fundação Serralves, mal a pandemia se instalou.
"Antes de entrarmos em confinamento, já sabia que a minha situação profissional era insegura e, com a pandemia, passou a ser dispensável", conta Felícia, natural de Vila Real, mas a viver no Porto.
É na Invicta que se mantém, mesmo tendo ficado sem emprego. Foi lá que foi fazendo carreira, com colaborações com a Câmara Municipal, com o Maus Hábitos, com a Galeria Graça Brandão e com o Espaço Mira, entre outros.
Tempo para a marca
E foi lá que decidiu não baixar os braços. E avançar, vendo num percalço do trajeto uma oportunidade. Até porque o apoio a que teve direito da Segurança Social, destinado aos trabalhadores independentes, correspondeu apenas a 30% do valor que auferia mensalmente.
"Ter ficado sem emprego permitiu-me ter tempo para poder dedicar-me ao que até então não conseguia. Pude desenvolver de uma forma mais efetiva o meu trabalho como artista plástica e formular e avançar com projetos artísticos e de dinamização cultural, que estavam em stand-by", explica a artista ao Jornal de Notícias.
E teve hipótese, também, de se focar, finalmente, na sua marca de artesanato urbano, a Zbiri, "que vinha a crescer lentamente ao longo dos últimos tempos".
Autonomia precária
Felícia Teixeira diz que sempre teve consciência de que "as oportunidades e apoios nesta área são diminutos, quer em termos de empregabilidade, quer de financiamento para projetos".
"A oferta de emprego, sem ser em situações precárias, é bastante reduzida e os salários pouco sustentáveis. Deveria haver uma reformulação, no país, quer das condições de trabalho, quer da acessibilidade e da garantia para o mínimo indispensável à sobrevivência, de modo a cada um poder construir a sua autonomia", alerta.
A trabalhar desde os 25 anos, assume que "ser autónoma financeiramente é uma situação que, a recibos verdes, nunca é efetiva". E lamenta-o.