Cerca de 58% dos trabalhadores por conta de outrem tinham contrato sem termo. Novas gerações desiludidas com mercado laboral.
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A maioria dos trabalhadores (60,7%) por conta de outrem com idades entre os 20 e os 30 anos tem um rendimento mensal líquido abaixo dos mil euros. No ano passado, eram mais de 436 mil jovens naquele patamar salarial. Os baixos salários são mais expressivos quando se calcula o rendimento médio mensal da principal atividade laboral, o que exclui segundos empregos, como os trabalhos a tempo parcial. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), com base no Inquérito ao Emprego, em 2022, os jovens adultos ganhavam em média 843 euros. Hoje assinala-se o Dia Nacional da Juventude, com protestos marcados pela CGTP em Gaia e Lisboa, com o mote "Basta de empobrecer a trabalhar".
843 euros foi o rendimento médio mensal da atividade principal dos trabalhadores por conta de outrem com idades entre os 20 e os 30 anos, no ano passado. Os homens naquela faixa etária ganharam em média mais 62 euros do que as mulheres.
De acordo com Dinis Lourenço, coordenador nacional da Interjovem, a organização específica da CGTP para os jovens trabalhadores, a situação dos baixos salários é particularmente grave porque "se trata da geração mais qualificada de sempre". Apesar dos dados do INE não adiantarem qual o nível de formação, a realidade mostra que a "desvalorização das carreiras e das profissões" está a penalizar os trabalhadores no geral, incluindo os mais novos e mais qualificados, diz o sindicalista.
Os números avançados ao JN deixam de fora todas as pessoas entre os 20 e os 30 anos que são trabalhadores independentes ou os casos de irregularidade laboral, como os "falsos recibos verdes". No ano passado, cerca de 58% dos jovens a trabalhar por conta de outrem tinham contrato sem termo (416,6 mil), ou seja, são efetivos nas respetivas empresas, o que denota mais estabilidade no trabalho. Apesar de se tratar de gerações mais novas e possivelmente mais qualificadas, os maiores salários e contratos estáveis permanecem em maioria nos homens.
"Não conseguem poupar"
"Há um trabalho ascendente e positivo de trazer mais jovens para o Ensino Superior, mas corremos o risco de não conseguir reter o talento, porque não temos salários competitivos face ao resto da Europa", defende Rui Oliveira. O presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) afirma que se "trata de uma geração que fez uma aposta nos estudos, mas que está desiludida" com a falta de oportunidades e de "remunerações atraentes" e a consequente perda de qualidade de vida.
134 mil trabalhadores por conta de outrem, entre os 20 e os 30 anos, ganharam um salário líquido de mil euros ou mais, em 2022. Do total, 73 mil eram homens e quase 62 mil eram mulheres. Mais de 147 mil trabalhadores não responderam.
Apesar das expectativas defraudadas, o dirigente do CNJ acredita que a maioria dos jovens está ciente dos benefícios de ingressar na universidade. "Sabe-se que para ter acesso às melhores oportunidades é preciso ter formação". Para os que queiram emigrar, mais por gosto do que por obrigação, e sobretudo para mercados competitivos, um curso superior é necessário, diz. De acordo com a Pordata, 10 535 pessoas entre os 20 e os 29 anos saíram de Portugal em 2021 para viver no estrangeiro por mais de um ano. Foram mais 808 do que em 2020, ano marcado pelo surgimento da SARS-CoV-2.
As remunerações baixas geram outro tipo de problemas, aponta Dinis Lourenço, como "não poder sair de casa dos pais", porque "não conseguem encontrar rendas acessíveis", e adiar possíveis sonhos de constituir família. O aumento do custo de vida veio agigantar a gravidade da situação, diz o coordenador nacional da Interjovem. "Os salários dos jovens trabalhadores servem hoje para compor o orçamento familiar. Mesmo os que moram em casa dos pais não conseguem poupar", justifica.
O presidente do CNJ destaca, por outro lado, que no ambiente empresarial, os mais novos "não estão a ser desafiados". "Poucos são os jovens que ocupam lugares de liderança nas empresas", afirma. "Não está a ser tirado partido do talento" em Portugal, conclui.