Agência de emprego Valor T, criada em maio de 2021, já conseguiu primeiras colocações. Jaime Amaro estava sem trabalho e conseguiu um part-time num supermercado: "chorei de alegria".
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Ao fim de nove meses a ouvir "não" em todas as portas a que batia, Jaime Amaro conseguiu um part-time por via da Valor T, a agência de emprego para pessoas com deficiência. Criada em maio de 2021, a agência já reuniu o interesse de mais de 100 firmas e conseguiu 700 entrevistas.
Quando, em janeiro do ano passado, Jaime perdeu o emprego, sabia que começava ali uma travessia no deserto em busca de uma nova fonte de rendimento. Solteiro, de 44 anos e com uma deficiência motora, Jaime precisava de rendimentos para ajudar a mãe, que só recebe uma pequena pensão que vai quase toda para a hemodiálise. Foi a várias entrevistas de emprego, mas sem sucesso: "Por muito sincero que fosse, chegava lá de muletas e começavam logo a meter entraves".
Jaime mora em Caparide, Cascais, e tem o curso profissional de Artes Gráficas. Em 2001, um tumor ósseo ditou que a perna lhe fosse amputada e, com esse fado, começaram as dificuldades profissionais. "As pessoas com deficiência ou entram através de uma instituição ou então dificilmente conseguem entrar no mercado de trabalho", lamenta. Mesmo quando se candidatava a trabalhos em que não precisava de estar de pé, era rejeitado. Ouviu tantas vezes a palavra "não", que chegou a desesperar. "Fui a muitas entrevistas e chorei muito, mas também chorei de alegria depois", recorda.
Este volte-face na história de Jaime deve-se à Valor T, a agência de emprego de pessoas com deficiência criada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa em parceria com o Governo. Através desta agência, Jaime conseguiu emprego como caixa de supermercado no Pingo Doce do Arneiro, em Carcavelos, e o trabalho está a correr "muito bem".
Em nove meses, a Valor T contabiliza "algumas dezenas de colocações", adianta a diretora, Vanda Nunes, que explica que o funcionamento desta agência visa relações laborais duradouras: "É por essas que estamos a lutar. Não estamos a lutar por estágios nem por empregos de seis meses. Para esses, conseguíamos bons números".
envolvimento total
Na Valor T, o caminho até ao encontro entre candidato e empregador é mais demorado que o normal. Enquanto uma equipa de psicólogos entrevista os candidatos, outra trabalha com as empresas. Do lado dos candidatos, cerca de 700 já foram entrevistados.
Do lado das empresas, mais de 100 já se registaram, mas a maioria está a definir com a agência de emprego os planos de contratações. "Estão ainda numa fase de definição de planos de trabalho que juntos iremos desenvolver, procurando construir em equipa respostas adequadas", afirma Vanda Nunes.
Sempre que há um encontro - ou um "match", como lhe chamam -, dá-se a entrevista de emprego entre candidato e empregador, na qual participa um elemento da Valor T. Caso o candidato seja escolhido, a agência também acompanha o processo de integração. Foi assim com a Jerónimo Martins, que empregou Jaime.
O grupo adianta que tem vindo a promover "a empregabilidade de pessoas em situação de desvantagem no acesso ao mercado de trabalho", como as pessoas com deficiência, migrantes e refugiados".
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Governante francesa elogia Portugal
A Valor T é um dos exemplos de medidas adotadas de apoio à empregabilidade de pessoas com deficiência que estão em curso em Portugal e que, no final do ano passado, chegou a ser apresentado a Sophie Cluzel, secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência de França, num encontro em Lisboa. Ao JN, Sophie Cluzel elogiou "o caminho português no combate a este flagelo" com a criação da Valor T, mas também por via do regime de quotas, que obriga as empresas privadas a contratarem pessoas com deficiência. Em França, acrescentou, as medidas de apoio direto à empregabilidade de deficientes já permitiram a criação de "mais de 5000 empregos", sendo que o regime de quotas dos privados "está em vigor desde 1996". Ana Sofia Antunes ouviu os constrangimentos de França na aplicação destas medidas e tomou nota que "o valor das coimas que são aplicadas às empresas que não cumprem as quotas depois reverte para um fundo que pode servir de apoio ao empreendedorismo".