Miral Amaral diz que será "muito difícil" convencer a "troika" a rever o défice
O ex-ministro e atual presidente do Banco BIC, Mira Amaral, prevê que será "uma tarefa muito difícil" convencer a "troika" a flexibilizar o défice para 4,5% em 2014 e considera não haver garantias de qual será "a melhor solução".
Corpo do artigo
"Não queria estar na pele do Governo. Obviamente que aliviar o esforço do défice é simpático, dá alguma folga à economia real e, nesse aspeto, é positivo. Mas, tem também duas consequências negativas: os mercados podem reforçar a falta de confiança na economia portuguesa e, se o défice é maior, significa que a dívida pública em termos nominais vai crescer", afirmou Mira Amaral à margem de uma conferência sobre a reforma do IRC, que decorreu no Porto, esta terça-feira.
Reconhecendo que "qualquer das duas soluções tem vantagens e inconvenientes", o ex-ministro da Indústria e da Energia considera que "compete ao Governo, em conjunto com a "troika" e utilizando o bom senso, verem, na soma disto tudo, qual a melhor situação para o país".
"Mas confesso que acho que o Governo vai ter uma tarefa muito difícil com a 'troika', porque o meu estado de espírito é que a 'troika' não quer flexibilizar, [mas] o Governo está a ver-se em extrema dificuldade para cumprir os 4% de défice e quer aumentá-lo", acrescentou.
A 'troika' (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) chegou segunda-feira a Lisboa para dar início à oitava e à nona avaliações regulares ao Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF), numa altura em que o Governo defende a revisão em alta do défice para 2014 dos quatro para os 4,5%.
A provar as incertezas em torno das vantagens e inconvenientes da flexibilização do défice, Mira Amaral apontou as "dúvidas, legítimas, pertinentes, que há entre os vários membros do próprio Governo".
"Vejam-se as palavras do vice-primeiro ministro [Paulo Portas] no sentido de querer flexibilizar e passar para os 4,5%, e, depois, o primeiro-ministro mais conservador, jogando à defesa e não alinhando claramente com o que disse o vice-primeiro ministro", notou.
"Isto porque - acrescentou - a economia não é uma ciência exata e, qualquer que seja a solução que se arranje na negociação do Governo com a 'troika', ninguém tem a garantia de que é a melhor".
Questionado sobre se considera inevitável um segundo resgate financeiro a Portugal, o presidente do Banco BIC considerou "prematuro" debater esta questão que, aliás, frisou, "deve ser tratada em recato e discretamente entre o Governo e os credores".
"Não acho bom sinal nem de bom senso estar a discutir isto na praça pública. O que considero que será positivo e mais favorável para o país é termos uma linha de crédito da União Europeia, depois do programa da 'troika', com o apoio do Banco Central Europeu [BCE], naquele programa de transações monetárias diretas".
O objetivo, explicou, é que "o BCE possa comprar dívida pública portuguesa em mercado secundário, por forma a contrariar esta tendência de subida das taxas de juro".
Contudo, alertou Mira Amaral, tal "implica que, de acordo com as regras do BCE, continue a haver condicionalismos macroeconómicas para o país", ou seja, "pode não estar cá a 'troika', mas as restrições macroeconómicas vão manter-se, não haja ilusões sobre isso".