O segredo de justiça foi invocado várias vezes, esta quinta-feira, pelo antigo administrador financeiro do BES, Amílcar Morais Pires, perante as questões que lhe foram colocadas pelos deputados acerca do alegado esquema com obrigações ligado à Eurofin.
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"Sobre as obrigações Eurofin não posso falar aqui porque decorre um inquérito criminal", afirmou logo na primeira ronda de questões da sua audição na comissão de inquérito parlamentar do caso Banco Espírito Santo (BES).
E voltou a invocar algumas vezes o segredo de justiça, sempre que era confrontado com perguntas sobre a Eurofin, empresa com sede na Suíça e com papel destacado na crise do Grupo Espírito Santo (GES).
Sobre a matéria, Morais Pires apenas realçou que "uma coisa é o processo de emissões do BES, e outra é a circularização que essas obrigações alegadamente terão tido".
O PS apresentou um requerimento na comissão de inquérito à gestão do BES e do GES reclamando a audição do presidente da Eurofin, Alexandre Cadosch.
"É uma chamada óbvia", porque é "fundamental" perceber "qual o papel da Eurofin neste processo", disse à agência Lusa o deputado coordenador do PS na comissão, Pedro Nuno Santos.
A Eurofin é um intermediário financeiro que conduziu operações que terão causado prejuízos de largas centenas de milhões de euros ao BES.
Na terça-feira, no parlamento, Ricardo Salgado também foi questionado sobre o alegado esquema de compra de obrigações através da Eurofin e o desaparecimento de mais de 700 milhões de euros de mais-valias realizadas com o mesmo, já na última fase da antiga equipa de gestão do BES.
Na ocasião, Salgado afastou qualquer tipo de atos ilegais de gestão.
"Os ganhos que o intermediário fez foram reinvestidos em dívida do grupo que estava nas mãos de clientes que não estavam protegidos pela provisão dos 700 milhões de euros. Eram clientes na sua maioria do exterior e o objetivo foi retirar-lhes esse risco", afirmou Salgado na comissão de inquérito.
"O objetivo foi dar a proteção máxima dos clientes (internacionais). A provisão de 700 milhões de euros foi aplicada ao papel comercial vendido no retalho em Portugal", garantiu, acrescentando que "ninguém se apropriou de um tostão, nem na administração, nem na família nem nos quadros diretivos", assegurou.
E reforçou: "Eu não tenho conhecimento de capitais que tenham saído do banco para terceiros".
Assim, segundo Salgado, "os reembolsos feitos foram para os clientes que tinham dívida do grupo (Grupo Espírito Santo) num banco internacional. Se esses clientes não tivessem sido reembolsados dessa dívida, ela teria ficado nas suas mãos".
Ora, de acordo com o responsável, estes "eram clientes de retalho, também, e poderiam ter o direito de exigir o mesmo tratamento que os clientes de retalho do banco (em Portugal) tiveram com a proteção da provisão dos 700 milhões de euros".