Luís Horta e Costa, administrador da ESCOM, empresa que geria os ativos não financeiros do Grupo Espírito Santo em Angola e que esteve envolvida no negócio dos submarinos, garantiu esta quinta-feira no Parlamento que "nunca nenhum detentor de cargos políticos ou decisores neste concurso levou um tostão da ESCOM", mas repetiu várias vezes que não põe a mão no fogo por não ter havido corrupção neste processo, arquivado no final de 2014.
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"Se houve da parte da Ferrostal, ou seja de quem for, a tentação de chegar a Portugal e dar dinheiro, seja a um almirante ou a um cônsul, não ponho as minhas mãos no fogo porque não conheço. Através de nós não houve", disse, admitindo que a ESCOM recebeu 27 milhões de euros de contrapartidas pela participação no negócio e lembrando que rescindiram o contrato quando se confrontaram com práticas de que discordavam.
Na comissão de inquérito ao caso BES, Horta e Costa explicou que 16,5 milhões foram para os três administradores da empresa e para o seu irmão Miguel Horta e Costa, que mediou o negócio; cinco milhões para os membros do Conselho Superior do GES, entre os quais Ricardo Salgado; e o restante para financiar a operação.
Os deputados insistiram em saber quem é o "sexto homem" de que Salgado fala, numa famosa gravação de uma reunião do Conselho Superior, como tendo que receber uma parte do negócio e queixando-se estar "rodeado de aldrabões". "Na cabeça do dr. Ricardo Salgado não sei quem é que era. Na minha cabeça e nas minhas contas seria o meu irmão, Miguel Horta e Costa", disse, admitindo que Salgado estaria "esquecido" por estar a falar, em 2013, de factos ocorridos em 2005.
O administrador confirmou que o esquema criado para a transferência do dinheiro, entre os quais a criação de um fundo no Panamá, se destinou a evitar pagar impostos. "É óbvio que quando a ESCOM monta este puzzle financeiro tinha um objetivo de otimização fiscal", disse, admitindo que aproveitaram os sucessivos RERT (perdões fiscais), aprovados pelo Parlamento, para trazer o dinheiro para Portugal.
Num tom bastante informal, o administrador disse estar "cansado" das pessoas que ali têm dito que não sabiam de nada do que passava no grupo. "Acho que iam para as empresas jogar sudoku ou palavras cruzadas", ironizou, apontando "muita omissão" por parte das pessoas que "deviam ter feito frente" a Salgado. "O homem habituou a tomar decisões sobre tudo, ninguém tomava". "Não sei de quem é a culpa, se calhar a culpa é de todos, mas acho muito difícil a culpa ser de um só", disse.