Romarias e feiras canceladas. Famílias com negócios de divertimentos temem ficar sem dinheiro para a alimentação.
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O cenário é tudo menos encantado. Os carrosséis estão encostados e a montanha russa que faz as delícias das romarias não tem data para ser novamente erguida. Deveriam estar a percorrer estradas e a preparar-se para animar as noites quentes de verão. Com a incerteza a pintar-lhes o futuro, o negócio das atrações já pesa nos bolsos das famílias de Luís Fernandes e José Tagaio.
"Está tudo cancelado até agosto. São entre 12 e 18 eventos", lamenta Luís, de 43 anos, enquanto tenta, de cabeça, fazer as contas ao prejuízo provocado pela pandemia de Covid-19 e refere os milhares de euros já gastos no pagamento de seguros e inspeções às máquinas cujo investimento não terá retorno este ano.
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As rodas continuam a ser os pilares das suas casas, mas desta vez estão presas num terreno em Mosteiró, Vila do Conde. Foi comprado há seis anos para estacionar os camiões e os divertimentos durante o inverno. Mas a situação podia ser muito pior, assume Luís, caso não tivessem tido trabalho, há dois meses, no "Reino da Diversão", em Guimarães.
"Nunca foi muito fácil"
Sem perspetiva de regressar ao trabalho, o receio da morte do negócio cresce a cada dia. "Vamos passar mesmo mal", prevê Luís, admitindo o medo de, a certa altura, deixar de ter dinheiro para alimentar o filho de dois anos.
Ao imaginar o tombo, José Tagaio, de 57 anos, baixa a cabeça e fixa o olhar no chão. Preocupa-se com os netos: Rafael, de quatro anos, e Rodrigo, de 10.
Mas Maria Cristina Antunes, mulher de Luís, confessa que a vida nas atrações "nunca foi muito fácil". Teresa Noronha concorda: "Nunca temos um salário fixo e dependemos sempre do tempo. Se chover, não vale a pena ter as atrações a funcionar. Mas há seguros que vão terminar em agosto deste ano e não vamos ter dinheiro para os renovar". O que significa, ao fim e ao cabo, uma paragem total de dois anos. Perante esta possibilidade, a questão impõe-se: irá o setor dos divertimentos sobreviver para animar as feiras em 2021? Luís Fernandes tem dúvidas.
O também ex-presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Diversão revela que estarão entre 400 e 500 famílias na mesma situação.
"O negócio das bancas de restauração, tais como das farturas ou dos crepes, pode afetar até 800 famílias. Cada uma tem cerca de quatro pessoas. É uma questão de fazer as contas", avisa Luís Fernandes que, ao antever o pior, pede a atenção e ajuda do Governo para que o setor não caia no esquecimento.
"É uma discriminação criarem ajudas para todos menos para nós", revolta-se.
recuperar o negócio
Às dificuldades financeiras que se adivinham severas, soma-se o desassossego da dúvida de saber se tudo irá, algum dia, voltar ao normal. Isto porque, garantem os trabalhadores, "vai demorar muito tempo até que as pessoas confiem novamente" e queiram pagar para usufruir das atrações.
Caso isso aconteça, lamenta Luís Fernandes, a recuperação do negócio será impossível. "Não vamos conseguir. Alguém tem de ajudar-nos", suplica, garantindo que tudo se pode adaptar. "As filas podem formar-se com distâncias de segurança e estabelecemos um limite de pessoas para entrar de cada vez. Podemos fazer isso tudo. Mas não cancelem os eventos. Adiem. Não vamos morrer da doença, vamos morrer da cura", desabafa.