O aeroporto Sá Carneiro, que serve a Região Norte e moveu 13,1 milhões de passageiros em 2019, vai sofrer, como o JN adiantou no dia 1, uma redução drástica nos voos da TAP quando a transportadora retomar o grosso da atividade no dia 18 - apenas três rotas: Funchal, Londres e Paris. Por comparação, o aeroporto de Lisboa recebe 71 rotas.
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A companhia, que tem a imensa maioria dos voos suspensos pela pandemia coronavírus, mantém trabalhadores em lay-off, e já disse necessitar até junho de uma injeção de 350 milhões de euros. É, desde 2016, uma empresa semipública: 50% do Estado (via Parpública), 45% do consórcio Gateway (de Humberto Pedrosa e David Neelman) e 5% dos trabalhadores. A gestão é do consórcio privado, uma vez que o Estado só nomeia administradores não executivos.
800 milhões de euros é o valor da dívida invocado pelo ministro das Infraestruturas há dias. O Estado tem 50% do capital, mas sem grande poder de decisão.
A reação no Norte a esta retoma assimétrica no plano de atividades da TAP está a levantar um coro unânime de críticas. Rui Moreira, presidente da Câmara eleito pelo movimento cívico Porto o Nosso Partido, diz ao JN que "é uma posição absolutamente inaceitável", que "vai matar as empresas do Norte e do setor secundário" e que, assim, será "terminantemente contra qualquer apoio estatal à TAP". O autarca, há muito crítico da gestão da empresa, escreveu no JN do dia 3 o texto "Sem tréguas", sublinhando "o direito de exigir que a retoma da operação da transportadora abranja o nosso aeroporto numa proporção idêntica à que havia antes da crise" e que "um arranque desequilibrado aprofundará ainda mais as assimetrias e inquinará, em definitivo, todo o país em direção ao abismo económico, financeiro e social".
Procura de alternativas
Rui Moreira, que diz não acreditar que a decisão seja "temporária", sugere já financiamento a outras companhias que não a TAP. E aponta: "A ser assim, é preciso que o Turismo de Portugal disponibilize recursos à entidade do Turismo Porto e Norte para darmos preferência às outras companhias sediadas no Porto e que dão emprego a muitos portugueses, como a Ryanair e a EasyJet". E sublinha: "Não é boicote à TAP, não podemos boicotar algo que não existe e a TAP no Porto não existe".
Luísa Salgueiro, autarca de Matosinhos eleita pelo PS, diz que a decisão "é insultuosa" e "inaceitável", concordando com Moreira: "Se a TAP não servir o Norte, está a excluir-se da ambição nacional e, aí, devemos procurar outras companhias". E vinca: "Espero não ser preciso apelar ao boicote na TAP. Espero que a decisão se inverta e espero continuar a ter orgulho numa transportadora que queira ser nacional e não apenas regional", diz.
Também Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto, está indignado: "É absolutamente lamentável. Não consigo compreender, não é aceitável", disse ao JN. "Estaremos vigilantes e em cima desta questão tão injusta num país tão centralista e que continua a apostar, incompreensivelmente, todas as fichas em Lisboa".
Posições
Rui Rio também contra
"Não pode ser assim", disse o presidente do PSD, e ex-autarca do Porto, sobre a redução para três rotas das operações da TAP na Invicta. "Vamos ver se é verdade ou mentira, mas uma coisa é clara: só vale a pena equacionar a TAP em termos de Estado se for nacional e não regional".
Eduardo Vítor espera
O autarca de Gaia e presidente da Área Metropolitana do Porto diz que a decisão da TAP "só pode ser transitória" até que o Governo "assuma de vez" a gestão. Eduardo Vítor diz ter o "compromisso político" do primeiro-ministro, António Costa, de que a situação será corrigida.
PS e sindicato contra
O PS/Porto considera a decisão "discriminatória para o Norte" e o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes da Área Metropolitana do Porto "repudia este plano".
105,6 milhões de euros foi o valor do prejuízo do Grupo TAP em 2019. O ano anterior tinha sido ainda pior: perdas do grupo de 118 milhões de euros.