A garantia da TAP de que a retoma da operação não irá afetar só o Aeroporto do Porto mas também o de Lisboa não é suficiente para sossegar autarcas e industriais do Norte.
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E se o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, exige que o "Sá Carneiro" mantenha um número de voos proporcional ao registado antes da pandemia, o líder da Área Metropolitana do Porto (AMP) e edil de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, classifica de "inaceitável" a projeção que estipula que, ao longo deste ano, sejam reativadas 71 rotas a partir do Aeroporto Humberto Delgado, enquanto do Porto partirão, somente, cinco voos. Um dos quais com destino a Lisboa. "Falei com o primeiro-ministro, António Costa, e fiquei com a convicção que o Estado irá assumir o controlo da TAP e resolver esta situação, que é desigualitária", refere.
Porto a crescer
Ao JN, a TAP assegurou que não há qualquer decisão tomada quanto ao futuro do Aeroporto Francisco Sá Carneiro e que o número de rotas previstas para Porto e Lisboa integra apenas um de vários "documentos de trabalho" que antecipa diferentes cenários. A companhia recorda ainda que, em 2019, realizou, a partir do Sá Carneiro, mais 88 voos semanais face a 2015, num claro sinal da importância atribuída ao equipamento.
Mesmo assim, o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, Mário Jorge Machado, só fica descansado quando houver "uma situação proporcional" entre Porto e Lisboa. "Esses números percebem-se se disserem respeito a uma situação inicial. Mas com a abertura da economia, a TAP não pode discriminar o Norte, é nesta região que está a força industrial do país. Recebemos milhares de clientes e fornecedores", nota. Nuno Botelho, da Associação Comercial do Porto, também pede que a TAP seja uma companhia de "todo o país e não de um aeroporto ou de uma região".
Uma companhia aérea nacional é o que exige ainda Emídio Sousa. "Não aceito que se trate a TAP como uma companhia de Lisboa quando toda a indústria está no Norte. Não é de todo compreensível que uma companhia que se diz nacional retome a sua atividade a partir de Lisboa, que é uma região de serviços e turismo", critica o vice-presidente da AMP e autarca da Feira. "Não se pode limitar desta forma tão drástica a reativação tão necessária da economia e em especial das empresas exportadoras", diz o autarca de Viana do Castelo, José Maria Costa.
Estado intervém
Com a operação suspensa, a TAP enfrenta grandes dificuldades financeiras, que serão agravadas com o decreto-lei publicado ontem e que impõe um limite de dois terços da lotação para cada avião. O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, já respondeu, no Parlamento, à possibilidade do Estado auxiliar a TAP, avisando que haverá consequências: "Se é o povo português que paga, é bom que seja o povo português a mandar". A solução poderá passar por um empréstimo público convertível em capital ou por um aumento de capital. O BE quer a TAP nacionalizada e já apresentou um projeto-lei nesse sentido.