O ex-presidente da República Mário Soares defendeu, esta segunda-feira, que os mercados financeiros devem ser sujeitos a regras, caso contrário as democracias entrarão em descrédito num processo que pode levar a um conflito global.
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"Os mercados não podem ser senhores dos Estados, têm que ser dominados pelos Estados e seguir regras", defendeu, intervindo num painel de debate na conferência promovida pelo semanário "Expresso" para assinalar os 40 anos do jornal, no Centro Cultural de Belém.
Mário Soares lembrou que o papa Bento XVI defendeu na sua mensagem de Ano Novo que o capitalismo sem regras é uma ameaça à paz e afirmou concordar com aquela afirmação: "A globalização tem que ter regras, tem que ser regularizada".
"Isso é o fundamental e se não for assim nós vamos ter uns anos em que vamos ter grandes sarilhos, as democracias vão entrar em descrédito, em muitos sítios já estão, e vamos ter porventura uma terceira guerra mundial", advertiu.
O antigo líder socialista disse ser a favor de que "se comece a lutar para que se acabe com os paraísos fiscais, para que se acabe com a roubalheira".
No mesmo painel de debate, o ex-chefe do governo espanhol Felipe González convergiu com Mário Soares na defesa de regras para dar alguma previsibilidade aos movimentos de capital a nível global mas observou que é absurdo pensar que se pode fazer uma regulação a nível nacional.
"Esse é um problema que temos. Se se pode regular a nível estatal? Não. É absurdo que a Espanha pretenda regular o funcionamento do Banco Santander dentro das suas fronteiras", disse, duvidando ainda da eficácia de uma regulação a nível europeu.
Para González, a "regulação tem que encontrar-se como passo decisivo a nível global".
O antigo líder do PSOE criticou as consequências da financeirização da economia, assinalando que hoje, se a economia mundial cresce 3%, o fluxo de capital cresce 60 a 70% no mesmo período.
"Isso é um problema. O fluxo de capital cresce sem ligação à economia produtiva", disse.
Felipe González manifestou preocupação com a "ausência de um propósito" a nível europeu, afirmando que hoje os Estados estão "obcecados com o défice" e rejeitou a "mentira tantas vezes dita" de que a "coesão social é um obstáculo à competitividade".