Tráfego nos aeroportos está praticamente parado. Retoma deverá ser muito lenta. A partir desta segunda-feira, deixa de haver limitações à lotação de passageiros. Máscara é obrigatória.
Corpo do artigo
Os maiores grupos de aviação do Mundo estão a braços com uma crise sem precedentes e Portugal não é exceção. O tráfego nos principais aeroportos nacionais está com quebras superiores a 90%, ainda que algumas companhias já tenham recomeçado a voar. A partir de hoje, deixa de haver limitações à lotação de passageiros. O uso de máscara é obrigatório.
Em Portugal, os efeitos da pandemia na aviação civil foram visíveis a olho nu: os céus mantiveram-se azuis, sem rastos de aviões, e os pássaros regressaram à imediação dos aeroportos. Segundo a Navegação Aérea de Portugal (NAV), em março os voos sobre os céus portugueses diminuíram 36% - menos 24,3 mil voos, realizando-se 43,8 mil. Em abril, a quebra foi de 94%, correspondendo a apenas quatro mil dos 69 mil registados em abril de 2019. Na penúltima semana de maio, já se notava alguma retoma, com uma média de 210 voos diários, mais 80 que na semana equivalente de abril.
"Estes são valores ainda bastante distantes dos registados em condições normais. Veja-se que na primeira semana de março, por exemplo, estávamos a controlar em média mais de 2100 voos por dia", explicou fonte da NAV.
Recuperar confiança
Os aeroportos tornaram-se locais silenciosos e praticamente desertos, uma vez que a maioria dos voos que se realizaram foram de transporte de carga. De acordo com os dados da Eurocontrol, organização para a segurança do tráfego aéreo europeu, na passada quinta-feira, em que se realizaram 97 voos, o tráfego estava ainda 97,7% (Faro), 93,2% (Lisboa) e 92,8% (Porto) abaixo do verificado na mesma altura de 2019.
Há quem preveja que as viagens, tal como depois do 11 de setembro de 2001, nunca mais serão as mesmas. Há regras de prevenção da covid-19 que podem manter-se doravante para evitar novas pandemias, como a maior proibição de bagagem de mão ou o embarque e desembarque de passageiros que minimizam cruzamento de pessoas. Ainda que o ar na cabine dos aviões seja filtrado ao nível dos blocos operatórios, ainda vai demorar para reconquistar a confiança dos viajantes e muitos deverão adiar ou suprimir deslocações internacionais.
Falências à vista
No primeiro mês de confinamento, as companhias aéreas perderam mais de 227 mil milhões de euros. No segundo mês, a maioria das operações manteve-se reduzida a 10%, na melhor das hipóteses, e a retoma que está a começar é demasiado lenta para muitas empresas. Algumas faliram, outras receberam ajudas dos governos - mais de 30 mil milhões de euros, só na Europa - e outras despediram.
A associação internacional de transporte aéreo (IATA) calcula que o impacto da pandemia na aviação se prolongue a médio prazo, sendo pior na aviação de longo curso. Num cenário moderado, os níveis de procura do ano passado serão ultrapassados só em 2023. O próximo ano ainda terá quebras de 24%. A recuperação começará pelo tráfego doméstico, cuja rentabilidade só será recuperada em 2022. Até lá, muitas companhias irão falir - e outras, como a TAP, só sobreviverão com ajudas dos estados.
Companhias
TAP parou tudo
Em abril, praticamente todos os 105 aviões ficaram em terra, cerca de nove mil trabalhadores entraram em lay-off e mil tiveram redução de 20% no horário. A reposição de mais alguns voos começou devagar, a 8 de maio, e só aumentará ligeiramente em julho.
Ryanair no mínimo
A "low cost" parou os voos em março, com exceção das ligações entre o Reino Unido e a Irlanda, perdendo 5,2 milhões de passageiros. Em maio, anunciou a eliminação de três mil postos de trabalho nos aviões e 250 nos escritórios. A 1 de julho retoma 90% da operação em Portugal.
Easyjet
Durante o confinamento, teve quatro mil trabalhadores de cabine em lay-off, agora vai eliminar 4500 postos de trabalho. A retoma começa em meados de junho.
Air France/KLM
Grupo prevê retoma a 80% dos valores do verão passado e não espera recuperar para valores pré-crise "durante vários anos". Só em março, perdeu mil milhões de euros em receitas. Recebeu 7 mil milhões de euros em ajudas do Estado.
Lufthansa
Em 65 dias, "ficámos com o nível de tráfego de há 65 anos", disse o CEO, Carsten Spohr. 700 aviões ficaram em terra em março.
Saber mais
600 mil cancelamentos
Na pior semana de março (24 a 30) relativamente à covid-19, estima-se que tenham sido cancelados 600 mil voos comerciais em todo o mundo.
14400 aviões em terra
Durante o confinamento, os aviões estacionaram nos aeroportos de todo o Mundo. Até fim de março, as companhias perderam 227 mil milhões de euros.
Europa parou
Dos 20 mil voos que partiram ou chegaram à Europa, por dia, em janeiro, realizaram-se menos de um quarto - quando a pandemia atingiu Itália. Muitos eram "voos fantasma", a operar vazios para as companhias não perderem a vaga nos aeroportos, até a UE ter suspendido essa regra.
Lenta retoma
A Eurocontrol registou seis mil voos por dia em toda a Europa, na passada quarta-feira, o valor mais elevado desde o início de março mas ainda longe do normal.